“Quando consegui arrumar emprego, percebi que ele não ficou feliz. Dava impressão de que se sentia inferior a mim. Quando eu saía, enviava fotos da roupa para ele saber o que eu estava vestindo.” O relato de Mayara, de 21 anos, é um entre várias manifestações de mulheres sobre relacionamentos abusivos.
O tema ganhou as redes sociais ontem após Marcos Harter, de 37 anos, ser expulso da 17.ª edição do reality show Big Brother Brasil (BBB) supostamente por agredir Emilly Araújo, de 20 anos. Pela hashtag #EuViviUmRelacionamentoAbusivo, mulheres relataram situações em que foram vítimas de agressões psicológicas e, em alguns casos, até mesmo físicas por parte dos parceiros. A discussão entrou nos Trending Topics – lista dos assuntos mais comentados – do Twitter ontem. Harter aproveitou a rede para se defender. “Jamais tive intenção de a machucar física ou emocionalmente.”
Na web, as vítimas denunciaram abusos por parte dos parceiros como o controle sobre dinheiro, amizades e senhas. “Na minha festa de aniversário, ele não foi, mas eu tinha de conversar o tempo inteiro com ele pelo celular”, conta Mayara, que trabalha no setor financeiro de uma empresa. O relacionamento foi o segundo em que a jovem se sentiu agredida psicologicamente. “No primeiro, eu aceitava migalhas porque achava que ele era o melhor. Ele ia à minha casa quando queria e eu ficava à disposição dele”, diz.
De acordo com a psicóloga Raquel Silva Baretto, nos relacionamentos abusivos há uma concentração de poder. Identificar o problema, no entanto, é um desafio. “Os sinais são sutis. Parece um conto de fadas, mas, desde o começo há um excesso de controle mascarado sob forma de zelo”, explica ela, doutoranda em Saúde Pública, com ênfase em saúde e violência, pela Fundação Oswaldo Cruz.
Segundo Raquel, o controle emocional das vítimas – que na maioria dos casos é mulher – pode desembocar em agressões físicas. “Ele dizia que ia matar”, conta a estudante Bruna Ogliari, de 18 anos. Após dois relacionamentos abusivos, ela se sente insegura para se envolver novamente. “Não consigo confiar.”
Os términos não foram fáceis. “Sabia que estava em um relacionamento abusivo, mas não conseguia sair. Terminei depois de um tempo e com ajuda de pessoas próximas”, diz ela. Apesar de ter conseguido encerrar os namoros, relata que passou a reproduzir o comportamento dos parceiros. “Passei a ser abusiva em meus outros relacionamentos. Fiquei insegura a ponto de não conseguir confiar e ter senhas de tudo.”
Cópia. Para Mayara, as agressões também criaram o temor de que ela reproduzisse abusos com outras pessoas. A jovem conta que teve crises de choro ao notar que estava se comportando com o atual namorado da mesma forma que os ex-companheiros. “Tenho medo de ser abusiva porque nunca fui tratada diferente disso.”
Ela acredita que a visibilidade do tema nas redes sociais pode ajudar outras vítimas. “Acho que, quanto mais a gente falar, mais as pessoas vão ver que não estão sozinhas. Hoje (ontem) tuitei três frases que o meu último ex me dizia e uma menina me mandou uma DM (mensagem no Twitter) para falar que estava na mesma situação.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.