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Barragem tinha margem de segurança muito baixa em caso de liquefação

O relatório da consultoria alemã Tüv Süd, que atestou a estabilidade da barragem que se rompeu em Brumadinho (MG), revela que a estrutura trabalhava com uma margem de segurança muito baixa para a hipótese da liquefação dos rejeitos – fenômeno apontado como a provável causa do colapso. Além disso, o relatório chama a atenção para a presença de um pedregulho de extensão indeterminada no pé da barragem, cujo eventual deslocamento poderia servir de gatilho para a liquefação.

Os rejeitos de uma barragem de minérios são compostos, basicamente, de ferro em partículas muito finas, areia e água. Essa combinação é propensa ao fenômeno da liquefação. Ou seja, quando o volume e a pressão da água aumentam por algum motivo, o solo tende a se liquefazer. Fatores externos, como tremores de terra, também podem servir de gatilho para a liquefação.

No entanto, a margem de segurança da barragem do Córrego do Feijão para a hipótese da liquefação era bem baixa, segundo o relatório. Ela foi estimada em três pontos diferentes em 1,2; 1,18 e 1,09. As normas vigentes para o setor preconizam uma margem de segurança mínima de 1,50 (ou de 50%).

O relatório entende, no entanto, que a barragem atende a norma na condição drenada (ou seja, em condições ideais, quando não há infiltração de água), registrando fatores de segurança de 1,93; 1,76 e 1,60. A norma NBR-13028, de fato, não preconiza um fator de segurança mínimo para o modo de falha liquefação (quando há infiltração de água), mas apenas em condições ideais.

“As obras de engenharia em geral deixam uma margem de segurança extra, em geral de 1,50 ou 50% a mais de resistência”, explicou o professor Mario Riccio, da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora. “Algumas obras admitem fatores de segurança um pouco menores, dependendo da situação, quando não há riscos de vidas humanas, por exemplo.”

No entanto, o próprio relatório explica que “as análises de estabilidade sob condições não-drenadas (com água) têm o intuito de avaliar o potencial de ruptura da barragem por liquefação”. Além disso, o relatório também aponta problemas nos sistemas de drenagem da barragem que podem ter levado a algum tipo de infiltração.

“Para que o fenômeno da liquefação ocorra, além da presença dos materiais suscetíveis, há também a necessidade de ocorrência de um gatilho”, ressalta o relatório. Os gatilhos, segundo o documento, podem estar associados a eventos estáticos ou dinâmicos, como o alteamento rápido da barragem, a elevação do nível do reservatório, excesso de equipamentos, detonações, remoção de materiais, movimentação da fundação da barragem, entre outros.

O próprio relatório chama a atenção para um potencial gatilho: “Já no pé da barragem, deve-se atentar ao grande bloco abaixo da estrada. Para determinar com precisão sua extensão, recomenda-se a limpeza da área e a realização do mapeamento geológico de superfície. Esta última deve ser complementada por investigação geofísica para determinação das dimensões não expostas”. E recomenda: “Uma vez realizadas tais investigações, a estabilidade do bloco e seu potencial de comprometimento da estrutura devem ser avaliados. Especialmente, deve-se atentar à possibilidade de que as movimentações deste bloco constituam gatilhos para a liquefação”.

O relatório, de agosto do ano passado, tinha validade de um ano. O documento foi assinado pelo engenheiro Makoto Namba e o consultor em geotécnica André Jum, que chegaram a ser presos, mas foram soltos ontem. O documento, de 265 páginas, foi elaborado com base em informações fornecidas pela Vale, análises técnicas e vistorias de campo.

A Vale informou que a barragem “possuía fator de segurança de acordo com as boas práticas mundiais e acima da referência da norma brasileira”. A mineradora disse ainda que “a barragem passava por inspeções de campo quinzenais, todas reportadas à Agência Nacional de Mineração. Todas essas inspeções não detectaram nenhuma alteração no estado de conservação da estrutura.”

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