Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil |
Tasso e Heráclito Fortes, em frente ao BC: oposição sobe o tom. |
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, revelou ontem a senadores da oposição que o banco não foi acionado pela Polícia Federal (PF) para ajudar na investigação da origem do dinheiro usado para pagar o dossiê Vedoin. Depois de receber a informação pessoalmente de Meirelles, o presidente do PSDB, Tasso Jeiressati (CE), subiu o tom e acusou diretamente o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e a PF de estarem escondendo o que sabem por causa das eleições. A prisão dos petistas envolvidos na negociação do dossiê ocorreu no último dia 15.
O senador tucano cobrou de Bastos uma resposta sob pena de ser considerado ?cúmplice de um crime?. ?Isso é um absurdo, um escândalo. O ministro tem de responder hoje e se não responder ainda estará claramente dando demonstração que não está sendo republicano. Pelo contrário, estará sendo cúmplice de um crime?, disse. Para Jereissati, a credibilidade do ministro da Justiça e da PF está em jogo e ?fortemente afetada?.
O ministro já foi notificado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por suspeita de estar usando eleitoralmente a PF ao não permitir a divulgação da imagem do dinheiro apreendido. ?É esperar demais da natureza humana que os presidentes de partidos, na véspera de uma eleição que lhes é desfavorável, não queiram gerar fatos públicos?, respondeu Bastos, que desdenhou as críticas que considera parte do jogo eleitoral.
?Eu suspeito fortemente que a Polícia Federal tenha todas as informações e esteja postergando para depois das eleições. Eu lamento dizer, porque é uma instituição que merece toda a nossa credibilidade, mas hoje essa credibilidade está em dúvida?, acusou Jereissati, estranhando o fato que quase 15 dias depois de estourado o escândalo a PF não tenha acionado ainda o BC.
Segundo Jereissati, Meirelles informou que só poderia fazer uma investigação se houvesse pedido judicial. ?O normal seria que a Polícia Federal pedisse ao juiz. Como a PF não fez o pedido, ele (Meirelles) não pode fazer a investigação?, afirmou o senador tucano.
A três dias das eleições, Jereissati e o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), um dos coordenadores da campanha de Geraldo Alckmin, foram ao BC cobrar explicações de Meirelles sobre a atuação do banco nas investigações. Fortes criticou o BC no caso e, em tom de ironia, disse que hoje o guardião da moeda nacional é a PF. ?É decepcionante. O BC não sabe nada e não viu nada.
O guardião da moeda hoje é a Polícia Federal?, disse. Segundo Fortes, os governistas não têm autoridade para acusar a oposição de estar explorando eleitoralmente o episódio, enquanto não disserem a origem do dinheiro. Como a audiência com Meirelles foi solicitada na quarta-feira à noite, integrantes do governo acusam, nos bastidores, os senadores de quererem fazer um ?circo? no BC às vésperas das eleições.
Em nota à imprensa, divulgada após a reunião, o BC confirmou a informação dada por Jereissati de que a instituição não recebeu nenhuma solicitação formal, mas destaca que Meirelles informou aos parlamentares que as investigações da PF junto a instituições financeiras, que fazem operações de compra e venda de dólares, garantem o acesso a mais informações do que as disponíveis no Banco Central. ?Isso porque os contratos das operações de câmbio ficam arquivados naquelas instituições, enquanto o Sisbacen mantém somente registros destas operações, dos quais não constam número de série e de cédulas?, afirma o BC.
Lacerda ?está na campanha?, diz PSDB
Brasília (AE) – O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), e o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), um dos coordenadores da campanha do tucano Geraldo Alckmin, acusaram ontem o diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, de estar em ?campanha política?, embora exerça um cargo técnico. Eles visitaram o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e foram informados de que a PF não havia pedido ajuda para identificar os dólares usados por petistas para comprar o dossiê Vedoin. Em resposta às críticas dos dois à PF, Paulo Lacerda os acusou de ?estarem em campanha?. Os dois responderam: ?Se o Lacerda estranha que estamos em campanha, estamos sim. Estranho é o diretor da PF estar participando de campanha. Se essa questão de onde veio o dinheiro, até as eleições, não for resolvido, não é por incompetência da PF?, afirmou Jereissati, insinuando que o diretor da PF participa de uma operação abafa, para ocultar a origem do dinheiro encontrado com os petistas.