Preso há quase um mês em Bangu 9, o manifestante Jair Seixas Rodrigues, conhecido como Baiano, de 37 anos, recusou acordo de delação premiada oferecido por um delegado e um promotor de Justiça que o interrogaram no presídio de segurança máxima. O objetivo dos investigadores era, em troca de benefícios como eventual redução de pena, obter do militante nomes de suspeitos de envolvimento em um suposto “recrutamento de ativistas” para atuar em manifestações contra o governador Sérgio Cabral (PMDB). “Não tenho ninguém para delatar”, disse Baiano, segundo um dos investigadores.
Militante da Frente Internacionalista dos Sem Teto (Fist), Baiano contou no interrogatório que já morou na Noruega, no Canadá e na África do Sul. Ele foi casado com uma norueguesa e teve um filho com ela. De acordo com o advogado André de Paula, integrante da Fist, as viagens foram pagas pela ex-mulher. “Ele (Baiano) nunca foi ligado a nenhum partido. Pregamos o voto nulo.”
No Rio, o militante morava em uma das ocupações promovidas pela Fist. Aos investigadores, ele disse viver das doações que a entidade recebe de simpatizantes. Sobre o fato de ter sido detido sete vezes desde junho, o manifestante alegou sofrer “perseguição de policiais infiltrados”.
Após a última prisão, em 15 de outubro, suspeito de ter ateado fogo a uma viatura policial, ele foi denunciado sob acusação de formação de quadrilha. Baiano nega a acusação. André de Paula o classifica como preso político e afirma que ele está isolado em uma solitária, sem direito a visitas e banho de sol. “Como confundi-lo com black bloc se nunca andou mascarado? É bode expiatório. Onde está a quadrilha da qual dizem fazer parte? Será que a quadrilha a que se referem é a Fist, que luta para que as pessoas tenham o direito de ter uma moradia?”
A Polcia Civil investiga casos de suposto “financiamento político de ativistas”. De acordo com reportagem do jornal “O Globo” publicada no domingo,10, pessoas ligadas ao PR, partido do ex-governador Anthony Garotinho, teriam levado militantes pagos para manifestações contra Cabral no Rio. Um dos suspeitos trabalha no gabinete do deputado estadual e vice-presidente do PR, Geraldo Pudim.
A Polícia Civil informou apenas que as investigações estão em andamento, sob sigilo, e que as pessoas citadas “estão sendo intimadas a prestar depoimento”. Pudim reagiu afirmando que Cabral está usando uma “polícia política” para atacá-lo. Sem citar nomes, acusou dois deputados da base de sustentação do governador na Assembleia Legislativa de terem contratado um militante para “se infiltrar no PR e incitar o partido a participar de manifestações e fazer outros tipos de atividade que poderiam resultar em crime, o que não ocorreu”.
Além do suposto recrutamento de pessoas de outros Estados, a polícia apura a informação de que traficantes de drogas e milicianos teriam se infiltrado em manifestações de rua. “Há esse projeto de parar o Rio. Vai ter estudante viciado, então o que nós fazemos? Vai ter nosso povo para se enturmar junto com os playboy viciado dentro da passeata”, disse o traficante Rodrigo Prudêncio Barbosa, preso em Bangu 9, em conversa com investigadores. Milicianos também são investigados sob suspeita de financiar o transporte de grupos para promover depredações. Os inquéritos estão sob sigilo.