Foto: José Cruz/Agência Senado |
Eduardo Azeredo: tempo para se explicar. continua após a publicidade |
Atingido pelas ligações com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que coordenou o caixa 2 da campanha mineira em 1998, o senador Eduardo Azeredo foi forçado a deixar a presidência do PSDB ontem. Bastaram 72 horas, contadas a partir do aparecimento do cheque de R$ 700 mil do empresário à campanha de Azeredo ao governo de Minas Gerais, para que a cúpula do PSDB armasse a operação despejo do senador, a 23 dias do término de seu mandato. O PSDB realiza convenção nacional no dia 18 de novembro para eleger o senador Tasso Jereissati (CE) presidente do partido.
"Há muito o titular da presidência do PSDB, prefeito José Serra, havia manifestado o desejo de pessoalmente transmitir ao seu sucessor a presidência do partido", discursou Azeredo da tribuna no início da noite, ao anunciar que estava deixando o posto para "defender-se livremente" das acusações. "Fui escolhido como alvo por ser presidente do PSDB", completou, ao denunciar uma "operação despiste" de focalizar o caixa 2 como delito maior. Àquela altura, o líder tucano Arthur Virgílio (AM) já havia subido à tribuna para defender uma CPI exclusiva para apurar as denúncias de caixa 2 de campanha que envolvem vários partidos em vários Estados.
O script da renúncia foi montado nas duas horas de reunião a portas fechadas que ele teve com Tasso e Arthur Virgílio, no fim da manhã. Além da "simbologia" da unidade partidária, com Serra passando a faixa ao ex-adversário que votara em Lula na corrida presidencial, o PSDB queria partir para a ofensiva, propondo a CPI. Com seu estilo direto e franco, Tasso não deixara dúvidas de que sua saída imediata era um imperativo. E Azeredo, que já chegara abatido ao gabinete de seu sucessor, não opôs resistência. Saiu da conversa sem dar uma palavra aos jornalistas, e foi escrever o discurso que faria da tribuna, no final da tarde.
Assim que desembarcou no Aeroporto de Brasília, no final da manhã, Azeredo foi convocado para a reunião no gabinete de Tasso, discretamente localizado no 11.º andar do edifício principal do Senado, onde o elevador impõe uma espera mínima de 5 minutos aos visitantes e a imprensa normalmente não circula. Naquele momento, os três tucanos encarregados de montar a estratégia da renúncia (Tasso, Arthur Virgílio e o líder na Câmara, Alberto Goldman) já estavam afinados no discurso em favor da nova CPI do caixa 2, que deveria ser sustentado pelo senador.
Azeredo defendeu a tese de que "não há como confundir os fatos ocorridos em Minas com a prática introduzida pelo PT, sob o comando da Casa Civil da Presidência, de arrecadação de fundos de origem inexplicável para garantir um esquema de compra de votos no Congresso, de tráfico de influência, de desvios de recursos de fundo de pensão e de contratos públicos, e de achaques a empresários".
"Não permitirei que usem o meu nome para encobrir a corrupção do governo", bradou Azeredo ao propor a investigação de todas as campanhas eleitorais, inclusive as do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "para verificar se elas custaram mesmo o que declararam". O senador declarou à Justiça que sua campanha mal sucedida da reeleição a governador custara R$ 10 milhões. "Alguém tem dúvidas de que a quase totalidade das campanhas de nossos adversários custaram muito mais do que o declarado", indagou, citando a campanha de Lula em 1998, que teve despesa declarada de apenas R$ 3 milhões.