A elucidação de uma chacina de quatro garotas, ocorrida em Goiânia no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, ligada a outras sete mortes e a várias tentativas de homicídios, mais um estudo sobre criminosos com muitas passagens pela polícia, levaram, nesta terça-feira, 25, o governo de Goiás a anunciar uma campanha sobre a reincidência criminosa e por mudanças na legislação penal.
Os três acusados de terem matado as jovens já se envolveram, somados, em 16 crimes, pelo quais foram fichados e/ou presos, mas depois soltos. Isso sem contar a chacina, o que elevaria para no mínimo 19 passagens, sendo três por homicídio.
A secretaria de Segurança Pública acabou elaborando um estudo com 11 casos recentes e de grande repercussão como este. A estatística mostrou que 34 envolvidos nestes 11 casos somam 120 reincidências, sem contar os crimes que tiveram repercussão, o que chegaria ao total de 151 delitos, ou seja, uma média de 4,5 reincidências para cada acusado.
“Dados do Serviço de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública mostram que a reiteração (reincidência) de crimes chega a 70%”, ressaltou o secretário da área, Joaquim Mesquita. “Faremos uma campanha mostrando esses dados, vamos defender mudanças na legislação e que as Forças Armadas assumam a vigilância em fronteiras brasileiras para barrar armas e drogas, além de mobilização pela vinculação constitucional de recursos para a segurança pública, como ocorre com a saúde e a educação”, defendeu o governador de Goiás, Marconi Perillo, que acompanhou a divulgação do estudo, antes da apresentação dos acusados da chacina, nesta terça-feira, 25, pela manhã, na Secretaria de Segurança Pública. No evento, Mesquita questionou a divulgação de um ranking, colocando Goiânia como a 28ª cidade mais violenta do mundo, realizado por uma organização não-governamental mexicana, segundo ele, “sem critério científico nenhum”.
O crime
A chacina do Morro do Mendanha, como ficou conhecido o caso, na verdade, foi o desdobramento do clima tenso causado por uma guerra entre membros de uma quadrilha de traficantes que rachou e que acabou atingindo as namoradas de dois dos integrantes, mais duas amigas delas. Nenhuma das quatro vítimas tinha ficha criminal embora algumas fossem usuárias de drogas.
A principal motivação teria sido a descoberta de um telefonema que uma das garotas, ex-mulher de um traficante de outro grupo, retornou para um policial. A ligação levou o novo namorado, também traficante, a combinar as mortes junto com integrantes do próprio grupo, acreditando que a gangue era delatada pela jovem. Como saíram juntas, elas foram rendidas e executadas com tiros na cabeça, e os corpos encontrados enfileirados numa rua do Morro do Mendanha.
Morreram Sinara Monteiro da Costa, de 16 anos, Rayane Kelrry Silva, de 15, Mylleide Morgana Lagário de Lima e Ana Kelly Martins, ambas de 19 anos. Os principais acusados são dois adolescentes de 17 anos, e Paulo Henrique Carmo Silva, de 21 anos. Eles fugiram, mas foram monitorados durante 13 dias, até a prisão, no dia 20 de março, após terem sido encontrados escondidos no Entorno do Distrito Federal. A Polícia agora busca confirmar a participação de mais um ou dois adolescentes ainda não presos. Com o trio foram apreendidas duas pistolas calibre 380 e ponto 40.
‘Bonde’
A morte das jovens desencadeou a realização de um “bonde” de criminosos, segundo as investigações policiais mostraram. A Polícia Civil apurou que havia desconfiança de que a execução das quatro era para atingir outra facção criminosa, daí a realização do arrastão de crimes como invasão de casas e emboscadas a rivais, como forma de vingança.
Os criminosos estavam procurando e atacando os rivais. Portavam armas, colete à prova de balas e até uma granada de alto poder de destruição. A movimentação acontecia no presídio e na periferia de Trindade, cidade da região Metropolitana de Goiânia. Duas mulheres foram baleadas na cabeça, mas sobreviveram. As tentativas de homicídio faziam parte desta “reação”.