Brasília (AG) – Líder entre as nações mais competitivas em exportações agropecuárias, o Brasil vê, a cada ano, aumentar o leque de pragas no campo. Além das já conhecidas aftosa, brucelose e tuberculose, que atingem os rebanhos brasileiros, e de doenças tradicionais nos laranjais como cancro cítrico e morte súbita, agora os produtores enfrentam novas ameaças. As mais preocupantes são a ferrugem asiática, que causou R$ 6 bilhões de prejuízo aos produtores de soja na safra passada; a sigatoka negra, que já atinge as principais regiões produtoras de banana do País, entre as quais o Vale do Ribeira, em São Paulo; e o greening – chamado de “dragão amarelo” – que está invadindo as plantações de laranja.
“O grande problema para o produtor que enfrenta essas doenças consiste no aumento dos custos com a pulverização. Caso contrário, não há como fugir dos prejuízos”, afirma Aléssio Marostica, da câmara de insumos da Confederação Nacional de Agricultura (CNA).
Especialmente no caso das doenças mais recentes, fica difícil para governo e produtores calcularem as perdas não apenas em termos de renda, mas também as relacionadas à imagem do Brasil no exterior. Isso só será possível no ano que vem, quando os ciclos de produção estiverem consolidados.
“A situação é complicada e o produtor está sem direção, sem saber que rumo tomar”, alerta o engenheiro-agrônomo paulista Valentim Ocimar, referindo-se ao greening. “Ainda estamos pesquisando e as chances de ser mesmo o greening, que tem origem asiática, são de 99,9%. Mas o Brasil ainda não reconheceu esta praga oficialmente”, diz o coordenador de proteção de plantas do Ministério da Agricultura, José Geraldo Ribeiro.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Suco de Laranja (Abecitrus), Adermeval Garcia, a defesa dos pomares, a compra de agroquímicos e sua aplicação nos laranjais, representa hoje 52% dos custos do cultivo. Sem contar o greening, mas levando em conta doenças já conhecidas, na década passada mais de dez milhões de árvores tiveram que ser arrancadas por causa do cancro cítrico, 15 milhões devido ao CVC e quatro milhões em decorrência da morte súbita. O medo é ter de repetir – ou elevar – a dose.
Para o diretor-executivo do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), Nelson Gimenes Fernandes, o setor público deveria investir mais em pesquisas e medidas de defesa animal e vegetal.
“O orçamento da Fundecitrus é de R$ 42 milhões por ano. O total liberado pelo governo federal este ano para todo o sistema de defesa fitossanitária e animal é de R$ 44 milhões”, diz Gimenes.
Ferrugem asiática
A ferrugem asiática, responsável pela quebra da safra passada de soja em 5 milhões de toneladas, é outra grande preocupação. Aléssio Marostica ressalta que uma das conseqüências da doença foi a perda de competitividade do Brasil frente aos Estados Unidos.
“Por causa da ferrugem, a competitividade que o Brasil tinha em relação aos EUA, de 10% a 15%, desapareceu com o aumento dos gastos com fungicidas”, destaca Marostica.
O chefe do escritório da Emater, Marconi Moreira Borges, que atua junto a uma comunidade de 380 produtores rurais do Distrito Federal, conta que a ferrugem apareceu na safra passada, no fim do ciclo, causando uma perda de 10% da safra.
“O único estado brasileiro que está livre da ferrugem é Roraima”, diz o técnico.
Já a sigatoka negra surgiu no Norte do País e está descendo para as maiores regiões produtoras. O fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura Renê Suman lembra que a doença entrou no Brasil em 1998, pelo Amazonas, próximo à fronteira com o Peru e a Colômbia. O Ministério da Agricultura ordenou que o estado fosse interditado, para que a doença não se propagasse.
“O problema é que, após todas as medidas de controle, surgiu um foco no Vale do Ribeira, em São Paulo, em fevereiro, que só foi informado ao ministério em junho. Quando vimos, todo o vale estava contaminado”, diz Suman.