Brasília – Dias atrás, a senadora Patrícia Saboya Gomes (PSB-CE) esperava o momento de votar na sala do cafezinho, anexo ao plenário. Sem esconder um certo tédio, confessou a colegas e jornalistas o desencanto com a política, que exerce desde a juventude, quando era líder estudantil. O sentimento não é raro entre os parlamentares desde o início da crise que revelou ao País esquemas de corrupção e caixa dois no PT e no governo Lula.
"Não dá mais para acreditar em ninguém. Estou decepcionada com a política", diz a senadora. Ela exerce o primeiro mandato de senadora, depois de passar pela Assembléia Legislativa do Ceará. Vive a política desde o berço, mas ainda assim revela cansaço. Essa descrença desestimula o ingresso de novos quadros nos partidos políticos. O presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), conta que teve dificuldades para filiar pessoas dispostas a concorrer a um mandato.
"Uma das conseqüências da crise será a redução do número de candidatos. Percebemos isso na fase final de filiações para 2006. Existe hoje um receio de ingressar na vida pública", diz Azeredo.
A frustração leva até políticos experientes a repensar o futuro. O senador Fernando Bezerra (PTB-RN) é um dos que pensam em deixar a vida pública. Empresário, ele se queixa de ter pouco tempo para a família e os negócios. O senador Amir Lando (PMDB-RO) é outro que cogita não disputar de novo.
O desgaste da imagem do Legislativo reforça as previsões de que em 2006 haverá um alto índice de renovação no Congresso. A deputada Elaine Costa (PTB-RJ) conta que vereadores de São Gonçalo apostam nisso para tentar chegar a Brasília: "Todo mundo torce pelo insucesso da nossa reeleição. A tese da sociedade é que fomos reprovados, mas tenho esperança de voltar".
O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), concorda com os vereadores de São Gonçalo: "Renovação haverá. Se surgirem valores novos, vão levar vantagem sobre os atuais integrantes do Congresso". Ulysses Guimarães, morto em 1992, acompanhou gerações de parlamentares e costumava dizer que a qualidade dos políticos piorava a cada eleição. Um de seus interlocutores à época, o hoje senador Heráclito Fortes (PFL-PI), acredita que isso é conseqüência do golpe de 1964.
A péssima avaliação dos políticos já reflete no comportamento deles: para não serem identificados, alguns deputados evitam o uso do broche de parlamentar quando estão fora do Legislativo.