Relatório preparado pelo Programa das Nações Unidas para Aids (Unaids) mostra que o Brasil está fora da lista dos países com maior cobertura de tratamento para pessoas com HIV. O documento indica que 11 países, entre eles o Chile, Cuba e Namíbia, têm pelo menos 80% da população estimada com vírus recebendo antirretrovirais. O Brasil está na classificação seguinte. Ao lado de México, Argentina e Paraguai, o País figura entre aqueles que oferecem tratamento para uma faixa entre 60% e 79% da população estimada de portadores do HIV.

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Diretor do Unaids no Brasil, Pedro Chequer considera que índice não representa um “problema”, mas um “desafio” para o País que, no início da última década, foi apontado como responsável pelo melhor programa de aids no mundo. “É preciso melhorar o diagnóstico precoce da doença”, disse Chequer. Ele ressalva, no entanto, que números mudam quando se analisa a população que já sabe ser portadora do vírus.

Nessas condições, o Brasil apresenta uma das maiores coberturas mundiais: mais de 95% da população com indicação de uso de antirretrovirais está em tratamento.

Estima-se que no Brasil entre 250 mil a 300 mil portadores do vírus desconheçam a sua infecção e, por isso, não iniciam a terapia no tempo adequado. Um estudo feito pelo pesquisador Alexandre Grangeiro, da Universidade de São Paulo (USP), mostra que 40% da mortalidade de aids no País está associada justamente ao diagnóstico tardio.

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O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que estratégias para ampliar o diagnóstico precoce da doença estão em curso. Ele citou a oferta de testes rápidos de HIV na rede básica de saúde e ações entre grupos jovens, como a realizada durante o Rock in Rio, para incentivar a testagem.

Ele apontou ainda uma nova ênfase para campanhas regionais, com linguagem e temáticas próprias. “Não podemos prevenir a epidemia da mesma forma que fazíamos 20 anos atrás”, disse Padilha. O enfoque, disse, precisa ser mudado justamente para atingir a população mais jovem. “O investimento em publicidade aumentou este ano em relação ao ano passado e vai aumentar em 2012. Mas em estratégias distintas.”

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Para Chequer, as mudanças estão no caminho certo. “Temos características diferentes em cada ponto do País. Isso demanda estratégias de prevenção também distintas.”

O relatório divulgado hoje foi o mais otimista dos últimos anos. Os números apresentados mostram que número de mortes, de registros de novas infecções atingiu em 2010 as suas menores marcas. Além disso, o número de pessoas em tratamento aumentou de forma significativa. A exceção ficou com Leste Europeu e alguns países asiáticos.

Pedro Chequer afirma que progressos maiores poderão ser alcançados, mas para isso é preciso que países desenvolvidos cumpram o compromisso firmado ano passado de aporte de recursos para combate mundial da doença. “Para conseguirmos atingir as metas é importante que países desenvolvidos respeitem o que foi firmado.” A ajuda internacional diminuiu de US$ 7,6 bilhões em 2009 para US$ 6,9 bilhões em 2010.

Chequer comentou as afirmações feitas pelo papa Bento XVI em documento divulgado há dois dias dirigido à África. O texto afirma que a aids é, antes de tudo, um problema ético e defende a abstinência sexual. “É contra ética sonegar informações sobre a formas comprovadas de evitar o contágio da doença, como o preservativo.”

Para ele, o papa se referia à Igreja ao falar sobre abstinência. “Certamente ele estava reforçando essa prática para os integrantes do clero, que têm como obrigação cumprir princípios estabelecidos pela Igreja, não à população em geral.”