José Janene: depoimento |
Brasília – O servidor público João Cláudio Genu, assessor do deputado José Janene (PP-PR), confirmou ontem, em depoimento à Polícia Federal (PF), que efetuou várias retiradas nas contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza a mando do chefe e de dois dirigentes do PP: os deputados Pedro Correa (PE, presidente da legenda) e Pedro Henry (MT, ex-líder da Câmara). Os saques eram feitos pela diretora financeira da agência de publicidade SMP&B, Simone Vasconcellos, e entregues em mãos a Genu, dentro da agência do Banco Rural no Brasília Shopping, em Brasília, conforme informou a procuradora da República Raquel Branquinho, que acompanhou o depoimento.
Genu disse à polícia que era mero transportador dos recursos, os quais entregava à tesouraria do PP, no 17.º andar do anexo 2 do Senado, atuando como uma espécie de mula. "Ele declarou que recebia os envelopes com o dinheiro, não conferia, punha tudo dentro da mala e entregava na tesouraria do partido", relatou Branquinho.
A procuradora avaliou o depoimento como "bom", mas não suficiente para caracterizar a existência do "mensalão", suposta mesada paga a parlamentares em troca de apoio ao governo. "O depoimento constitui materialidade, não do "mensalão’, mas de que houve saques na conta de Valério, recebidos por Genu para serem entregues aos dirigentes do PP", resumiu a procuradora.
Embora tenso, Genu colaborou com a PF e não deixou de responder a nenhuma pergunta. Ele disse que não sabia nada sobre a finalidade do dinheiro – se para pagamento de "mensalão’, formação de caixa 2 ou para enriquecimento pessoal dos dirigentes do PP -porque não tinha ingerência nas decisões e sequer participava das reuniões do partido. Informou também que é funcionário de carreira do Ministério da Agricultura, cedido ao gabinete de Janene, onde trabalha como assessor.
No depoimento, que durou mais de cinco horas, Genu revelou que recebia as ordens diretamente de Correa ou de Janene mas, em alguns trechos, citou também Pedro Henry, conforme a procuradora. Em outras vezes, a ordem de ir buscar o dinheiro vinha de um funcionário do partido.
Nessas situações, Genu buscava confirmar a ordem com um dos três dirigentes – Correa, Janene ou Henry. Ele não soube precisar quantas vezes foi ao banco e disse não ter noção do volume movimentado desde 2003, quando começou a atuar como mula, até o início deste ano.
A PF vai ouvir agora Simone. Ela foi intimada para depor na próxima segunda-feira em Belo Horizonte e identificar as pessoas para as quais entregou um montante até agora estimado em 6,7 milhões, sacado por ela das contas de Valério, acusado de ser o principal operador do "mensalão’, entre 2003 e 2005. No primeiro depoimento, dado há um mês, Simone mentiu sobre os valores e alegou não se lembrar de nenhuma das pessoas para quem repassou o dinheiro.
Conforme as investigações, Simone sacava os recursos na boca do caixa, na agência do Brasília Shopping e os repassava aos beneficiários, listados em mensagem que o banco mandava via fax desde sua sede, em Belo Horizonte. A análise preliminar dos fax indica que entre 30 e 40 deputados e senadores teriam se beneficiado desses saques.
Nos casos em que o dinheiro foi sacado por Simone, ela se encarregava de anotar o nome do beneficiário e o valor do pagamento no verso do fax. Mas em alguns casos, os nomes anotados foram a seguir riscados por ela. É o caso do deputado Carlos (Bispo) Rodrigues e do ex-tesoureiro do PL, Jacinto Lamas. A PF quer saber se o dinheiro foi entregue pessoalmente ou se a terceiros e ainda por que os nomes foram riscados. O deputado Josias Gomes (PT-BA), foi o único a assinar de próprio punho o recibo de um saque de R$ 100 mil.
A cúpula do PP decidiu fazer o mesmo que o PT e justificar como verbas de campanha o dinheiro que João Cláudio Genu retirou no Banco Rural e repassou para a tesouraria do partido. Por um acordo entre o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), o ex-líder Pedro Henry (MT) e o presidente da legenda, Pedro Correa (PE), apenas este último fará declarações sobre o que Genu revelou no depoimento à Polícia Federal. Mas Pedro Correa não falou nada. Sua assessoria informou que ele estava viajando pelo interior de Pernambuco.