São Paulo – As mulheres dos presos têm atuado como importante braço de sustentação do Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo. Investigações do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) da capital e do interior identificaram cerca de 200 dessas ?mulheres do PCC?, que movimentam as finanças da facção criminosa, gerenciada por seus chefões de dentro das prisões. Elas controlam mensalmente de 10 a 15 vezes o que normalmente o marido ou amante preso recebia quando estava em liberdade.
Dados de duas delas, que tiveram as contas rastreadas por cinco meses, mostram como funciona o esquema. Apesar do padrão de vida humilde, cada uma movimentou cerca de R$ 50 mil no período, ou R$ 10 mil mensais. Ao todo, foram feitas 1.490 transações bancárias e as contas dessas duas mulheres foram alimentadas ou abasteceram outras 78.
?São gente muito simples, mas têm acesso ao sistema financeiro e se tornam tesoureiras de alta qualidade fazendo a lavagem de um dinheiro vindo dos crimes?, disse o promotor de Justiça José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Gaeco da capital.
Nos depoimentos colhidos fica clara a conivência dessas mulheres com seus parceiros. ?Já quebramos o sigilo de toda essa ramificação, localizamos os envolvidos e essas pessoas serão ouvidas pelo Ministério Público. E são apenas dois exemplos de centenas de mulheres que estão na linha de frente dessa verdadeira inteligência financeira?, esclareceu Carneiro, que tem promovido mutirões no Gaeco para conseguir ouvir todas as suspeitas.
Segundo o Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro, departamento de última geração criado há seis meses pelo Ministério da Justiça e que atua em parceria com os promotores no caso, a análise de mais de 15 mil transações financeiras permitiu traçar o perfil de atuação das mulheres do PCC: recebem inúmeros depósitos de baixo valor em suas contas, chamadas de ?conta caixa?, e repassam o montante para poucos destinatários, conhecidos como ?elementos aglutinadores?.
O confronto das movimentações bancárias feito no laboratório do MJ mostra que até 94% dos titulares das contas caixa são mulheres.