O escritor Carlos Heitor Cony morreu na noite de sexta-feira, 5, de falência múltipla de órgãos, deixando vasta produção de romances, contos e crônicas do autor ao longo de sua carreira. Escritores, amigos e artistas lamentaram a morte do autor.
“É sempre lamentável quando morre um jornalista e escritor da relevância do Cony. A gente está perdendo uma geração… É uma pena. Livros como ‘Quase Memória’ e ‘O Piano e a Orquestra’ são muito importantes”, Milton Hatoum.
“Primeiro que eu gostava muito dele como amigo. E, para a minha geração, ele foi um jornalista e escritor muito importante. Com o livro ‘O Ato e o Fato’ ele enfrentou a ditadura e tudo aquilo que esmagava a gente. Ele mostrou que era possível ressistir escrevendo”, Inácio de Loyola Brandão.
“Eu lamento muito, gostava da obra e dele pessoalmente. O bom é que ele foi ativo até o final. Um intelectual rigoroso que vai fazer muita falta”, Luis Fernando Verissimo.
“Para a minha geração, criada nuns restos de beletrismo, Cony foi, com O Ventre, romance de estreia, a revelação de uma saudável literatura de maus modos. Depois, o jornalista que se opôs de bate-pronto ao golpe. Parecia morto para a literatura quando, em 1995, ressurgiu com Quase Memória, romance forte e tocante, e a ela permaneceu fiel até o fim, deixando sua marca não só na ficção como na crônica”, Humberto Werneck.
“Ele conjugava humanismo com uma sólida formação intelectual. Também tinha uma sólida formação teólogica, mas se dizia incrédulo. Eu acho que ele tinha uma certa ‘nostalgia de Deus’. Mas tem uma história que eu gostaria de contar. Nós conversavamos muito sobre cachorros. Ele tinha uma paixão por uma cadelinha que se chamava Mila. Cony dizia: “Nunca amei tanto como amei minha Mila. E eu nunca fui amado por alguém como ela me amou”. O livro Quase Memória se deve a Mila também. Cony, que estava há muitos anos sem escrever, notou que ao pressionar as teclas da máquina de escrever, ele apaziguava as dores da cachorrinha que estava doente. Era como se ela dissesse: “Escreve, Cony; escreve, Cony…”, Nélida Piñon.