Armas roubadas do Exército são encontradas em matagal no Rio

Depois de 12 dias de operações militares em favelas, foram encontradas por volta das 19 horas de ontem as armas roubadas de um quartel do Exército no Rio no dia 3. Os dez fuzis e uma pistola estavam num matagal entre os Morros do Vidigal e da Rocinha, na zona sul. Homens do Exército e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar localizaram o armamento graças a uma denúncia anônima.

A localização das armas aconteceu depois que as tropas já tinham deixado a Rocinha, ocupada das 10 às 19 horas por 300 soldados, que tiveram o auxílio de 60 homens do Bope. Os traficantes reagiram à investida militar com deboche e ousadia. Reunidos em lajes, exibindo fuzis, granadas e radiotransmissores eles soltaram fogos de artifício, detonaram explosivos e atiraram para o alto. Um adolescente foi preso.

À tarde, o Comando Militar do Leste (CML) já dizia ter indícios de que as armas roubadas do quartel permaneciam no Rio. "Pelos informes, telefonemas ao Disque-Denúncia, tudo indica que estão aqui. Na semana passada havia indícios de que poderiam ser conduzidas para fora da cidade, mas nós achamos que elas estão no Rio. Tanto que não fizemos operações fora da cidade", afirmou o coronel Fernando Lemos, assessor de Imprensa do CML.

Até o fim da tarde, o Disque-Denúncia havia recebido 945 ligações com informações sobre o roubo da pistola e dos fuzis. Em algumas denúncias, surgiu o nome de militares e ex-militares que poderiam estar envolvidos com o crime. "Estamos averiguando todas as informações", disse Lemos.

Não chegou a haver confronto na Rocinha, segundo informou o CML. Mas os criminosos, que escondiam o rosto com camisetas, não se intimidaram. Pelo rádio, os bandidos zombavam e ofendiam os militares, que respondiam – assim como fazem os PMs no dia-a-dia nos morros cariocas.

À tarde, um rapaz de 16 anos, que seria traficante, foi baleado na perna e levado para o hospital. O CML informou que ele não foi ferido por militares. O adolescente foi preso.Um soldado também se feriu, mas acidentalmente – deu um tiro no pé.

Um centro de comando das operações foi montado de manhã no Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare, em frente ao morro. Antenas de rádio foram instaladas no topo do prédio. Apesar da presença dos soldados e PMs, de dois carros de combate – um deles com o canhão apontado para os barracos – e de dois veículos blindados do Bope, os moradores circularam normalmente pelas ruas e o comércio funcionou o dia todo. Entretanto, veículos de lotação e ônibus escolares não puderam rodar.

"Minha filha de 10 anos está voltando do colégio e não pode subir. Fico muito preocupado", disse um morador por volta do meio-dia. Moradores idosos não tiveram como subir até suas casas: uma senhora de 80 anos, que voltava do médico, precisou ser transportada num carro de reportagem.

Os militares ocuparam também a favela Curral das Éguas, na zona oeste, por volta das 6 horas. Trezentos homens tomaram ruas, vielas e uma passarela que dá acesso à favela. Metade do efetivo serviu nas tropas de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti.

Seis veículos blindados e um helicóptero reforçaram a operação. Com cães, os militares cumpriram quatro mandados de busca. Não houve confronto e nada foi encontrado. A tropa deixou o local no início da tarde.

O Exército não assumirá o papel da polícia no Rio e voltará aos quartéis após a recuperação das armas, disse à tarde a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff – antes de o arsenal ter sido localizado.

Segundo ela, a União tem, para auxiliar os Estados no combate à criminalidade, a Força Nacional de Segurança Pública, formada por policiais militares de todo o País. Mas, para enviá-la, depende legalmente de um pedido de ajuda estadual – o que, no caso fluminense, não aconteceu.

Já está acertado que a Força atuará no Estado nos Jogos Pan-Americanos de 2007, mas o esquema da operação ainda não foi definido. "Acredito que é necessária uma atitude em relação à segurança pública", disse Dilma, após participar de painel no Fórum Saúde e Democracia, em Copacabana.

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