Um enorme degrau apareceu na praia central de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, nesta quinta-feira (20). O declive de areia chamou a atenção de turistas e moradores e surgiu dez meses depois do alargamento da orla da praia, uma das mais visitadas do estado. Um tubo de cimento também apareceu preso na areia.
Segundo a prefeitura, o degrau arenoso é um fenômeno chamado de escarpa e acontece logo após eventos como as ressacas, quando ondas fortes batem na costa. “Tivemos duas recentes”, diz o município, em nota.
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A administração pública afirma que, “como já era previsto, temos contratado um projeto de contenção nesse pequeno espaço, que será feito com geotubos”.
Geotubos são bolsas de contenção, com areia sobre elas, colocadas nos locais mais afetados. “O projeto da obra já previa no perfil de construção areia a mais para suprir a conformação e equilíbrio da praia ao longo do tempo.”
Com o declive na areia, surgiu também um tubo de cimento que, segundo a prefeitura, era de um antigo restaurante flutuante ali ancorado antes do alargamento da orla. Ele será retirado em breve.
A obra de extensão da praia central de Balneário Camboriú custou R$ 66,8 milhões e durou de março a dezembro de 2021, interditando grande parte do acesso aos banhistas.
A areia, trazida por tubos do fundo do mar, aumentou a orla de 25 metros para 70 metros.
E em Matinhos, fenômeno pode acontecer?
Para o professor de Geologia da Universidade Federal do Paraná Eduardo Salamuni, não é possível afirmar que o mesmo fenômeno também aconteça em Matinhos, no Litoral do Paraná.
Assim como Camboriú, Matinhos também passou por processo de alargamento da faixa de areia. No entanto, releva o professor, como o perfil da praia é diferente, com dinâmica da água e correntes marítimas, seria prematuro afirmar que a formação de um possível degrau aconteça na praia paranaense.
“Numa observação na geologia geral, seria muito prematuro afirmar que existe essa possibilidade. Mas por outro lado, não se descarta processos de erosão. São praias diferentes na morfologia. Vai depender do clima, da formação de ressacas. Não há como confirmar”, esclarece o professor.
O próprio projeto do engordamento da praia de Matinhos revela que a vida útil do alargamento da faixa de areia é de difícil estimativa, pois “depende do clima de ondas dos anos subsequentes à obra e, principalmente, da taxa de transpasse de areia no canal da baía de Guaratuba”.
Aumento da faixa de areia valorizou imóveis em Camboriú
O projeto elevou o valor da venda de imóveis residenciais na cidade. Segundo o FipeZap, o aumento foi de 24,77% em maio de 2022, na comparação com os 12 meses anteriores.
No entanto, os impactos ao meio ambiente podem ser “nada desprezíveis”, avalia o biólogo e professor na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Paulo Antunes Horta Junior. Entre eles, fala o pesquisador, estão a redução da transparência da água, além de mudanças em ecossistemas.
Horta Júnior afirma que a dragagem da área remexeu poluentes acumulados no fundo do mar, também consumido por peixes e crustáceos -que, por sua vez, são consumidos pelos seres humanos.
“O fundo do oceano vai acumulando poluentes diferentes [ao longo dos anos]: metais pesados, hidrocarbonetos e mesmo aqueles poluentes emergentes como antibióticos, fármacos, microplásticos. Tudo isso vai afundando no fundo do mar”, diz Horta Junior.
Os impactos ambientais também são pontuados pela oceanógrafa e professora da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) Débora Ortiz Lugli Bernardes, que destaca a importância de acompanhar a hidrodinâmica (direção das correntes) ao longo dos meses para avaliar novas alterações.