Área reflorestada atrai 208 espécies de pássaros em Itu, no interior de São Paulo

Nos primórdios era uma floresta, que foi derrubada para virar um cafezal, que depois foi coberto por pasto e hoje é uma floresta de novo. Ainda em processo de amadurecimento, verdade, mas seus benefícios já começam a ser sentidos: houve retorno da fauna e aumento da oferta de água nas nascentes do local. Esse é um resumo da história do Centro de Experimentos Florestais da SOS Mata Atlântica, em Itu, interior paulista.

Em pouco mais de oito anos de atividades de recuperação da vegetação, 200 espécies de aves nativas já voltaram. No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado hoje, a história serve como exemplo dos desafios e também dos ganhos que o Brasil pode ter ao cumprir uma das metas assinadas no Acordo de Paris, a de restaurar 12 milhões de hectares de floresta. Este projeto destaca apenas os resultados para a conservação, mas as iniciativas podem ter também ganhos econômicos (mais informações nesta página).

Foi o potencial hídrico que colocou a área de 524 hectares na mira do programa de restauração da ONG. Nos anos 1970, depois de décadas servindo como cafezal, o local foi comprado pela empresa Schincariol (hoje Brasil Kirin) por ter várias nascentes que poderiam servir a uma das fábricas, a cerca de sete quilômetros dali.

Foram construídos reservatórios e poços, mas o solo foi quase todo coberto por pasto. Haviam restado só dois pequenos fragmentos de vegetação natural, que cobriam menos de 10% do terreno. Em 2004, começaram as conversas com a SOS Mata Atlântica para a recomposição da área. “Eles queriam proteger as nascentes. O negócio principal da empresa é água”, conta o biólogo Rafael Bitante Fernandes, gerente de Restauração Florestal da ONG.

O local foi cedido para a criação do Centro de Experimentos Florestais. Ao lado de uma rodovia e cercada por pastagens e condomínios, a propriedade precisou de um intenso plantio de mudas para recuperar a cobertura florestal. Segundo Fernandes, de 2007, quando o projeto começou, até o fim de 2012, foram plantadas 720 mil mudas de 130 espécies diferentes. O custo ficou entre R$ 17,5 mil e R$ 22 mil por hectare.

Apesar de ainda estar crescendo e ganhando corpo, ali já existe uma “florestinha” que mudou a paisagem e já soma resultados marcantes. Um levantamento das aves feito em 2009 identificou que viviam ou passavam por ali 81 espécies associadas a ambientes aquáticos e a paisagens abertas. Em dezembro de 2015, o número tinha saltado para 208.

Vida

Começaram a aparecer espécies que preferem ambientes mais sombreados, afirma o ornitólogo Marcos Melo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que participou do estudo. “O centro já funciona como trampolim ecológico para aves que precisam de matas bem fechadas, como o gavião-de-cabeça-cinza (Leptodon cayanensis). Vimos que um adulto e um filhote ficaram alguns dias, se alimentaram e depois continuaram viagem”, diz.

Também foram observadas duas espécies ameaçadas de extinção – a curica (Amazona amazonica), um tipo de papagaio, e a cabeça-seca (Mycteria americana), um tipo de cegonha, que praticamente já não são mais vistas no Estado de São Paulo – e 13 endêmicas da Mata Atlântica, como o barbudo-rajado (Malacoptila striata).

Sem seca

Outro ganho foi sobre os recursos hídricos: 19 nascentes voltaram a verter água. Segundo Fernandes, o volume de água superficial aumentou 5% e o subterrâneo, 20%.

Ele conta que, durante a seca histórica que atingiu o Estado entre 2014 e 2015, o local praticamente não foi afetado porque as árvores deixam o ambiente mais resiliente. Uma parte da água serve para abastecer a fábrica, mas foi montado um esquema com bicas para que a população da cidade pudesse pegar água para uso emergencial. “Aqui não teve crise hídrica, ao contrário do que aconteceu na cidade de Itu. Minha casa ficou 19 dias sem água. A de um outro funcionário, 30 dias. A gente vinha tomar banho aqui”, lembra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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