Três dias depois do temporal que arrasou parte da região serrana do Rio, o desespero toma conta dos sobreviventes nos oito municípios atingidos. Faltam luz, água e comida para a população. Em meio à área destruída, que equivale às das cidades de São Paulo, Guarulhos e São Bernardo, há municípios ainda isolados, como São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim. Até as 22h15 de ontem, as prefeituras já contabilizavam 550 mortos, 6.170 desabrigados e 8.420 desalojados.
Além da dor, sobreviventes têm de conviver com boatos alarmistas. Ontem, na área comercial mais movimentada de Teresópolis, uma loja foi assaltada. Mas logo se espalhou a notícia de que havia acontecido vários saques, arrastão e até tiroteio. Com medo, comerciantes fecharam as portas e demoraram a reabrir. Em Nova Friburgo, informações infundadas sobre o rompimento de uma barragem provocaram correria no centro, com gente afobada chorando pelas ruas. Motoristas abandonaram seus carros, alguns voltaram na contramão.
Sobreviventes continuam tentando encontrar familiares entre os mortos. Em Friburgo, a orientação é que levem fotografias em que parentes apareçam com os dentes à mostra. Isso para facilitar a identificação de corpos em estado avançado de composição.
Em Teresópolis, onde já morreram 238 pessoas, são tantos corpos no IML da cidade que ontem as pessoas tiveram de usar máscaras para suportar o mau cheiro na hora de reconhecer parentes.
Os enterros não param. Mesmo de madrugada, familiares choravam seus mortos tentando se equilibrar, na chuva e sem iluminação, entre as mais de 180 covas rasas abertas. Com a falta de lugar para os enterros, a Justiça do Rio autorizou a exumação antecipada de corpos enterrados em 2007 no cemitério Carlinda Berlim, o principal de Teresópolis. Os restos mortais deveriam ser retirados ao longo de 2011, mas isso será feito emergencialmente para dar lugar às vítimas.
O socorro continua desembarcando nas áreas atingidas. Ontem, 225 homens da Força Nacional de Segurança chegaram à região serrana. Eles vão auxiliar nas buscas por vítimas e na manutenção da ordem pública, principalmente em Teresópolis. Ainda há muitos locais com corpos, aonde os bombeiros não conseguiram chegar.