Acuado por denúncias dentro e fora da hierarquia religiosa, os Arautos do Evangelho informaram não reconhecer a intervenção determinada pelo Vaticano. Em nota oficial, no dia 19, a associação diz não reconhecer como delegado pontifício de sua instituição o cardeal Raymundo Damasceno Assis, nomeado pelo papa Francisco.

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Segundo o presidente dos Arautos, Felipe Eugênio Lecaros Concha, existe “absoluta invalidez e inteira ilegalidade de tal decreto”, que apresenta “erros fundamentais”. Em um comunicado assinado pelo presidente, a associação admite ter recebido d. Damasceno e d. José Aparecido Gonçalves, bispo auxiliar de Brasília, na sexta-feira. “Nós lhes reverenciamos como bispos da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, e como tais ambos são objeto de nossa consideração, mas devemos declarar que não reconhecemos Vossa Eminência enquanto ‘comissário’ da Associação Privada de Fiéis Arautos do Evangelho, da qual eu sou o presidente legitimamente eleito.”

Concha alegou que os documentos apresentados pelos emissários do Vaticano se dirigem a uma “associação pública de fiéis”, enquanto a associação tem fins privados. “A diferença de natureza entre uma e outra é essencial, eminência. É como se um oficial de justiça se apresentasse na residência de ‘Antônio da Silva’ com uma notificação para ‘Pedro Rodrigues’. O Sr. Antônio não deveria receber tal notificação judicial, pois houve um erro de pessoa. De modo semelhante, os Arautos do Evangelho não podem receber um decreto dirigido a outra associação.”

Os Arautos alegam ainda que a determinação de um comissário para a instituição “infringiria o direito sacro e inviolável dos fiéis de associarem-se na Igreja com os próprios estatutos e as próprias autoridades”. O texto chega a citar uma decisão do Tribunal de Relação de Coimbra, em Portugal, de 17 de maio de 2011, que por votação unânime, decidiu que “as associações privadas de fiéis estão sujeitas à vigilância das autoridades eclesiásticas competentes, porém não pode a autoridade eclesiástica competente, a coberto desse dever de vigilância, designar comissários que representem a Associação.” Os também afirmam que d. José teria acolhido as queixas, que seriam levadas ao Vaticano.

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Histórico

As investigações vaticanas tiveram início há dois anos, quando um vídeo divulgado nas redes sociais mostrava o fundador dos Arautos, João Clá, citando um suposto interrogatório de um demônio, no qual alegava ter poder sobre o papa Francisco. Clá deixou as atividades na associação.

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Pesam ainda sobre os Arautos denúncias de pelo menos 40 pessoas de abuso psicológico, humilhações, assédio e estupro – na sede oficial, em Caieiras. Segundo a TV Globo, que divulgou o caso, haveria também investigações do Ministério Público a respeito.

Na nota oficial, os Arautos dizem ter tratado do assunto com os bispos e afirmam ser vítimas de perseguição pela mídia. O texto fala em “linchamento moral, eivado de preconceitos antirreligiosos”, “da parte de certos veículos de comunicação, visceralmente seduzidos pela tentativa de comissariado”. “Tal campanha tem causado danos morais irreparáveis.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.