Pesquisadores do Instituto Butantã publicaram no mês passado um artigo que descreve três aranhas caranguejeiras da Mata Atlântica – duas novas espécies e uma velha conhecida, sumida há décadas e reencontrada recentemente. Antes mesmo de serem catalogadas pelos cientistas, pelo menos duas delas já foram contrabandeadas e vendidas em pet shops virtuais na Europa. O crime motivou os pesquisadores a acrescentar um anexo pouco usual ao trabalho divulgado na revista científica ZooTaxa: um apêndice com fotos e informações para funcionários de alfândegas e órgãos de policiamento ambiental. A iniciativa fez sucesso e o artigo foi o mais acessado no site da revista durante o mês de setembro: 8.149 downloads.
Os biólogos Rogério Bertani e Carolina Sayuri Fukushima encontraram as aranhas no sul da Bahia durante uma pesquisa de campo financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A Avicularia diversipes já havia sido descrita em 1842, mas desaparecera nos raros remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste. Os dois pesquisadores reencontraram um exemplar entre as folhas da floresta. Bertani solicitou a um museu de Berlim o envio do espécime que baseara a descrição em 1842. O corpo da caranguejeira morta há mais de um século ainda mantinha o brilho azulado das patas: exatamente como a aranha recém-coletada.
A alegria só não foi maior porque os cientistas logo perceberam que não precisavam passar vários dias na mata para realizar a redescoberta. Bastaria navegar na internet. Contrabandistas já abasteciam pet shops no Velho Mundo com a caranguejeira. O preço de uma aranha desse tipo costuma variar de R$ 75 a R$ 90. Uma das novas espécies descritas no artigo – a Avicularia sooretama – também entrou no circuito do tráfico internacional de animais. Durante uma viagem por museus de história natural na Europa, Carolina descobriu que a caranguejeira recém-descoberta já estava à venda do outro lado do mundo.
Mas as aranhas brasileiras não atraem só a cobiça de adolescentes que procuram bichos de estimação pouco usuais. Farmacêuticas têm grande interesse nos animais, sem falar na indústria química e nos laboratórios de cosméticos. “De um modo geral, os animais mais procurados são aqueles com veneno”, aponta Bruno Barbosa, coordenador da Divisão de Fiscalização do Acesso ao Patrimônio Genético do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Ele explica que as toxinas costumam ser ótimas candidatas para novos princípios ativos de fármacos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.