Começou a disputa na Câmara Municipal de São Paulo pela chave dos melhores gabinetes. Antes mesmo de assumirem o cargo, os vereadores eleitos vão ter de fazer política para conquistarem seu espaço na Casa, que permite ao parlamentar que sai fazer a indicação do que entra. Para os 22 novos representantes do Legislativo, é hora de visitar salas e negociar trocas consensuais.
A prática ocorre com autorização da Mesa Diretora, que publicou um ato no dia 18 do mês passado, estabelecendo as regras para distribuição do espaço físico entre os 55 vereadores da capital. As trocas devem ser comunicadas à Presidência por memorando assinado pelo parlamentar que deixa o gabinete e pelo que vai ocupá-lo a partir de 2017. Os que foram reeleitos também podem trocar de lugar. Só quando não houver acordo, a “posse” das salas remanescentes será definida por sorteio.
Localizado no Viaduto Jacareí, centro da cidade, o Palácio Anchieta foi construído em 1969 para atender um total de 21 vereadores. De lá pra cá, o prédio teve de ser adaptado de acordo com o aumento de ocupantes. Os gabinetes foram redimensionados, mas não oferecem o mesmo espaço a todos. As metragens variam de 85 m² a 120 m².
Os menores são chamados de “quitinetes”. Já os mais disputados são os localizados nas extremidades do prédio, com vista para a Praça da Bandeira, e os que têm acesso direto ao elevador privativo – o que permite a seu titular entrar e sair do prédio praticamente sem ser visto. Rubens Calvo (PDT) é um dos parlamentares que têm essa vantagem hoje e, sem conseguir se reeleger, vai repassá-la a Milton Ferreira (PTN), que voltará à Câmara no ano que vem, após quatro anos.
Aurélio Miguel (PR) e Arselino Tatto (PT) também trabalham ao lado do elevador privativo. O ex-judoca não disputou a reeleição neste ano e já se comprometeu a deixar o gabinete para o atual presidente da Casa, Antonio Donato (PT). Tatto vai para o oitavo mandato consecutivo na mesma sala, no 11.º andar.
Sorteio. De saída, Ricardo Young, que foi candidato à Prefeitura pela Rede, afirmou ao Estado que não pretende repassar seu espaço como herança a ninguém. “Vou deixar para sorteio. Acho mais justo, já que há gabinetes melhores e piores no prédio e não quero escolher entre um ou outro vereador”, afirma o parlamentar que, no 11.º andar, tem uma das vistas mais privilegiadas. Do espaço, todo envidraçado, é possível avistar o fim da Avenida 23 de Maio e, ao fundo, o Vale do Anhangabaú.
Também arrumando as malas, Andrea Matarazzo (PSD) concordou em ceder seu gabinete para George Hato (PMDB), reeleito pela primeira vez neste ano. Mas fez um apelo: que seu sucessor no espaço mantenha o mural oferecido como presente pelo grafiteiro Eduardo Kobra. A obra retrata a Rua da Quitanda nas primeiras décadas do século 20. “Claro que não vou apagar. É a parte mais bonita do gabinete”, assegura Hato, atual vizinho de porta.
Pacote completo. Vereador mais votado da história de São Paulo, com 301 mil votos, o ex-senador Eduardo Suplicy (PT) não só acertou sua mudança para o gabinete do colega Nabil Bonduki, como também vai herdar dele um pacote com projetos de lei em tramitação. “Vou dar ao Suplicy a coautoria das minhas propostas. São 53 ou mais”, diz Bonduki. Na lista está a regulamentação do Carnaval de Rua e a criação do Circuito de Cultura. “É uma maneira de os projetos continuarem tramitando e do Eduardo já ter o que trabalhar quando chegar.” O gabinete que passará de petista para petista fica no 4.º andar e é dos mais simples.
Quem não gostar da disposição interna das salas tem o direito de reformar. A Câmara Municipal tem um contrato para manutenção e conservação do prédio, que inclui os principais serviços necessários, que são pintura, aplicação de sinteco nos pisos e colocação ou recolocação de divisórias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.