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Após fogo, Tucuruvi reconstrói o carnaval

Os cerca de 2,5 mil integrantes da escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi, da zona norte de São Paulo, entrarão no sambódromo na madrugada de 10 de fevereiro com um nó na garganta. Não pela emoção que habitualmente empolga os apaixonados sambistas da comunidade da Vila Mazzei nem pela forte pegada do refrão do samba-enredo “Uma noite no museu”, inspirado na comédia do ator Ben Stiller no cinema.

Os sentimentos que a terceira escola a desfilar na primeira noite do Grupo Especial da capital levará para a avenida são a dor e a gana de quem teve apenas um mês para refazer o trabalho de quase um ano, depois que um incêndio destruiu, no último dia 4, cerca de 70% das fantasias e a tirou da disputa pelo título de 2018.

Com o sonho de campeã do carnaval, aproveitando o sucesso do carnavalesco Flávio Campello – que venceu a disputa de 2017 na rival Acadêmicos do Tatuapé -, o fogo provocado por um curto circuito na madrugada queimou também, total ou parcialmente, 1,8 mil das 2,5 mil fantasias feitas à mão na escola. “Temos de refazer quase tudo”, disse na semana passada o ator Didi Guerreiro, coordenador de produção de fantasias da Tucuruvi, num improvisado barracão da Avenida Manoel Gaia, vizinho da quadra da agremiação, que fica na Avenida Mazzei. As roupas, compostas por até 70 peças, viraram cinzas no ateliê da Rua Bartolomeu de Torales.

Por causa do incêndio, a Liga SP decidiu que a escola não receberá pontuação nem será rebaixada. Não é a primeira vez que o fogo fustiga a festa da Tucuruvi. Em maio de 2014, o mesmo prédio da Manoel Gaia que agora serve de oficina provisória foi destruído pelas chamas.

Desta vez, porém, o tempo escasso impediu a recuperação total. Materiais raros e caros, comprados no segundo semestre, quando a fabricação das fantasias foi acelerada, viraram fumaça. O fogo comeu as 5 mil penas brancas de pavão albino, adquiridas a R$ 4,50 cada, que deveriam enfeitar os 60 costeiros (adornos de costas e cabeça) da Ala das Baianas, um dos charmes das escolas de samba. “Perdemos todas as penas do pavão albino”, lamentou Guerreiro, que tem dez anos de avenida e barracões.

Destaque do quarto carro da escola no desfile deste ano, Guerreiro – ator de teatro e produtor de cenários – conta que o fogo acabou com quase toda a roupa de cor salmão das baianas. “Só sobraram 17 dos 60 vestidos, mas os costeiros foram todos perdidos, e isso mudou o tecido e a até cor da fantasia que agora vai para a avenida”, explicou, enquanto trabalhava na Manuel Gaia, para onde foram levados os restos do incêndio.

Como a produção da escola não estava concentrada apenas no barracão incendiado, algumas roupas sobreviveram. O material da Fábrica do Samba, na Barra Funda, e algumas peças que estavam no térreo do sinistro se salvaram e estarão na avenida. Outras já haviam sido retiradas pelos foliões, como a fantasia de centurião dos 220 ritmistas da bateria.

Na Ala do Museu da Tortura, porém, o estrago foi grande. Com fantasias originalmente em tons de roxo e máscaras brancas imitando caveiras, a ala foi uma das mais afetadas. “Só sobraram os costeiros de 81 fantasias. Vamos refazer com o que temos”, disse Guerreiro.

A principal dificuldade da reconstrução, segundo os dirigentes, é que em janeiro os fornecedores já não têm mais as cores e tecidos especiais nem as quantidades necessárias de materiais para as fantasias desenhadas para o enredo. E muitas das alas, que foram totalmente destruídas, sairão com as fantasias alteradas em forma e conteúdo em relação ao plano inicial.

Mutirão

A comunidade do Tucuruvi apelou para os voluntários e a coordenação de produção dobrou o horário de funcionários no novo local de trabalho. Integrantes de outros setores, que já estariam envolvidos nos ensaios de harmonia, ritmo e bateria, têm passado os dias na tarefa de reconstrução para, ao menos, cumprir o regulamento, que exige 28 alas e 5 carros, mais tripés e comissão de frente.

Para a sambista Giovanna Amaral, “é hora de ajudar”. Ela dedicou horas de seu verão colando peças e forrando arames de suportes de ombros para tentar colorir complementos das 81 peças da Ala da Arqueologia. “E a gente vem trazer o almoço para eles”, emendou Maria Manoela, coordenadora de outro grupo encarregado de montar duas alas para cerca de 200 pessoas do Vale do Paraíba, fãs da Tucuruvi.

Para Campello, o tempo é agora o maior inimigo. “Mas vamos para a avenida mostrar um pedaço do sonho e, em 2019, tentar fazer o que não conseguimos desta vez”, afirmou Campello. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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