Depois da tragédia que já deixou 837 mortos e 518 desaparecidos, as cidades da região serrana do Rio enfrentam agora as doenças. A secretária de Saúde de Nova Friburgo, Jamila Callil Salim Ribeiro, confirmou hoje que o município vive um surto de leptospirose, com 46 casos notificados, sendo que cinco deles já foram confirmados. Ontem, no abrigo, 19 crianças sofreram um surto de gastroenterite e cinco permanecem internadas para hidratação. Jamila disse que já espera “um longo período de doenças infecciosas” na cidade e pediu paciência à população, pois o principal hospital da cidade ainda funciona de forma precária, sem raio X , banco de sangue e com enfermarias ainda interditadas, por causa de alagamento e lama no local.
Sete pessoas estão internadas com os sintomas de leptospirose, doença transmitida pela urina dos ratos. Quatro estão em hospitais públicos e três em clínicas particulares. “Os pacientes com leptospirose são aqueles que tiveram contato com as águas da enchente nos primeiros dias após a tragédia. No ciclo da doença, os sintomas se manifestam de duas a três semanas com febre alta e dores musculares intensas, principalmente na região da panturrilha. A população deve ter cautela no consumo de água”, afirmou a secretária. Ela disse que antes da chuva a cidade ficava meses sem registrar este tipo de enfermidade. Além das doenças infecciosas, Jamila não descarta a possibilidade de um surto de doenças respiratórias, como asma, devido à quantidade de poeira acumulada nas ruas.
Ações
A prefeitura de Nova Friburgo tenta acelerar as remoções diante da previsão de chuva para a próxima semana. Hoje, o Ministério Público do Rio (MP-RJ) divulgou que propôs, desde 2003, 21 ações civis públicas relacionadas a áreas com risco natural ou já afetadas por deslizamentos, alagamentos e desmoronamentos em Nova Friburgo. Ajuizadas pelas duas Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva do Centro Regional de Apoio Administrativo Institucional de Nova Friburgo, 19 delas obtiveram liminar da Justiça, determinando levantamentos, obras de contenção ou até remoções em localidades que coincidem com algumas das regiões mais afetadas pelas chuvas deste ano. No entanto, de acordo com o MP, parte das decisões da Justiça não foi cumprida e em outros casos houve recursos.
O MP obteve liminares que obrigavam a prefeitura de Nova Friburgo a reflorestar e até remover famílias das áreas de risco de vários bairros. Segundo os promotores, na Rua Sílvio Henrique Braune, na subida para o teleférico, área turística do centro, não foram realizadas as obras determinadas pela Justiça, em 2008, para extração de blocos rochosos com risco de deslizamento, construção de muro de contenção e instalação de sistema de drenagem de águas pluviais. O local foi destruído pelo deslizamento.
Na área de Vila Nova, a Justiça determinou, em janeiro de 2007, que o município mantivesse a interdição dos imóveis em áreas de risco, removesse moradores, impedisse novas invasões e fizesse obras contra deslizamentos. A prefeitura foi intimada diversas vezes por descumprir a medida. Também não foram realizadas obras em São Geraldo para retirada de blocos de rocha, como determinado em 2003. Já o MP, por sua vez, recorreu de uma sentença de agosto de 2010 que julgou improcedente o pedido para obras de contenção na Rua Anchieta, no centro. O secretário de Comunicação Social de Nova Friburgo, David Massena, informou que a Procuradoria do município faz um levantamento para saber se as informações do MP do Rio são verdadeiras.