Uma pesquisa da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) mostra que apenas 11,1% dos brasileiros confiam nos políticos, e 16,1% nos partidos. A maioria, no entanto, acredita que a corrupção pode ser combatida. O estudo, divulgado nesta quinta-feira (27) em audiência pública na Câmara dos Deputados, constatou também que as instituições públicas têm baixa credibilidade: 83,1% dos brasileiros não confiam na Câmara e 80,7% no Senado. Os entrevistados criticam especialmente o benefício do foro privilegiado aos políticos. Para 79,8%, a regra deveria acabar. A instituição que recebeu a melhor avaliação de confiança foi a Polícia Federal (PF), com 75,5%.
Segundo o professor-doutor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas, um dos coordenadores da pesquisa, o crédito na PF deve-se às operações deflagradas nos últimos meses, principalmente as que revelaram esquemas de corrupção envolvendo políticos e membros do Judiciário. "Não há dúvida nisso. As megaoperações colocaram a Polícia Federal em exposição positiva na mídia", avalia.
De acordo com Caldas, o mesmo motivo influenciou na avaliação das Forças Armadas, a segunda instituição com maior credibilidade (74,7%). O professor destaca as operações dos militares contra o tráfico de drogas nas favelas do Rio e no apoio à segurança da cidade durante os Jogos Pan-Americanos. No Poder Judiciário, o Juizado de Pequenas Causas tem a melhor imagem, com aprovação de 71,8%.
A pesquisa mostra que oito em cada dez brasileiros (84,9%) acreditam que a corrupção no País pode ser combatida. E para isso, as duas instituições que mais poderiam contribuir seriam a PF (25,1%) e o Ministério Público (22,8%). Apenas 9,7% acreditam que o Judiciário seria a instituição mais relevante no combate à corrupção e 12,9% julgam a Sociedade Civil mais capacitada para a tarefa.
"Personalista"
Ao relacionar os resultados da pesquisa ao índice de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – de acordo com levantamento CNI/Ibope, 60% dos brasileiros confiam no presidente -, Caldas explica que a população tende a confiar mais em pessoas do que em instituições. "O brasileiro tende a ser personalista, diferente do que acontece nos Estados Unidos, por exemplo. Lá eles podem não confiar em determinado político, mas sabem que a instituição onde ele atua é confiável", diz.
Segundo Caldas, o principal motivo para o descrédito no Brasil são as constantes adaptações das instituições para "se adequarem às elites". "As instituições estão sempre sendo moldadas para atender aos interesses dos grupos que estão no poder. Assim, não há como deter o crescente descrédito da população. Nunca houve no País duas eleições consecutivas com as mesmas regras", exemplifica.
Para ele, duas medidas poderiam alterar esse cenário. A primeira é a reforma política. E quase todos os entrevistados (95,4%) disseram que ela é importante para o País. A outra maneira, segundo o professor, seria uma mobilização "sem precedentes" da população para forçar os políticos a mudarem o quadro atual. "Mas não acredito que isso irá acontecer", afirma. "A curto prazo, não vejo solução. E ainda não chegamos ao fundo do poço".