São Paulo – A aparição de suposta imagem de Nossa Senhora no vidro da janela de uma casa na Rua Antonio Bernardino Correia, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, pode ser resultado de uma reação química. “No processo denominado irização, a película externa do vidro sofre uma espécie de ataque químico, provocando manchas que lembram um arco-íris”, diz o engenheiro civil Luiz Jorge Pinheiro, gerente da empresa Saint-Gobain, especializada na produção de vidros planos.
Segundo Pinheiro, a mancha fica incrustada na superfície e não pode ser removida com panos úmidos ou produtos de limpeza comuns. “O ataque químico é causado por variações de temperatura e umidade”, explica o engenheiro Miguel Zorrozua, assessor técnico do Sindicato dos Vidros (Sindvidros), que há mais de 35 anos trabalha com a produção desse tipo de material.
“Se os traços forem realmente causados pela irização, podem ser removidos com solução aquosa de ácido clorídrico ou fluorídrico”, diz. “Mas para termos certeza é preciso fazer exames técnicos.”
O padre e parapsicólogo Oscar Quevedo esteve na casa nesta quinta-feira e reafirmou a necessidade da realização de exames científicos, antes que fossem emitidos pareceres sobre o assunto. De acordo com o padre José Eduardo Ferreira, pároco da Igreja Nossa Senhora da Paz, freqüentada pelos moradores da casa, Quevedo adiantou que não parece haver indícios de fraudes.
Na próxima semana, o vidro deve ser retirado para exames e uma comissão será nomeada pelo bispo dom Paulo Mascarenhas Roxo para conduzir as apurações. Na tarde desta quinta, 15 guardas municipais cuidavam da segurança do local e organizavam uma fila para facilitar o acesso.
A estimativa é de que mais de 3 mil pessoas estivessem em frente da casa, tentando ver a imagem. Por causa do grande movimento, a prefeitura de Ferraz de Vasconcelos providenciou a instalação de banheiros químicos na rua.
“Até o fim de semana devem chegar caravanas de Salvador e do Rio”, disse o comerciante Walmar José da Rosa, de 22 anos, morador da casa e irmão da proprietária, Ana de Jesus Rosa. A movimentação nesta quinta-feira, fez com que ele perdesse o horário de ir ao banco. “Quando consegui sair de casa, a agência já estava fechada.”
Desde domingo, a auxiliar de enfermagem do pronto-socorro municipal Elaine Alves Santos, de 24 anos, esteve várias vezes no local. “As pessoas só falam da santa.” Na fila, muitos reconheciam que, mais do que a fé, era a curiosidade que os motivava a tentar ver a imagem. Atendendo a pedidos das equipes de emissoras de televisão, grupos – até então silenciosos – se dispunham a cantar e rezar quando as câmeras fizessem tomadas.