Foram duas horas de testemunhos e agradecimentos ao cardeal d. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, em homenagem a seus 95 anos, completados em 14 de setembro. Amigos e companheiros de luta em defesa dos direitos humanos, mais de 500 pessoas, encheram o auditório do Tuca, na noite desta segunda-feira, 24, para lembrar a resistência do cardeal à ditadura militar, a partir de 1966, quando ele foi nomeado bispo auxiliar do então cardeal d. Agnelo Rossi.
Os advogados Mário Simas , Luiz Eduardo Greenhalg e Fábio Konder Comparato recordaram a coragem de d. Paulo nos episódios dos assassinatos do jornalista Vladimir Herzog em outubro de 1975 e do operário Santos Dias, em janeiro de 1976, cujas viúvas, respectivamente Clarice Herzog e Ana Dias, participaram da homenagem.
Entre os convidados que se sentaram à mesa, ao lado do homenageado, estavam a reitora da PUC, Ana Maria Marques Cintra, o ex-ministro José Gregori, o jurista Dalmo de Abreu Dallari, o bispo emérito de Blumenau e ex-bispo auxiliar de São Paulo, d. Angélico Sandalo Bernardino, e o coordenador nacional do MST, Joáo Paulo Stédile.
A sessão começou com um grupo de representantes de movimentos sociais cantando “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, e foi interrompida, por segundos, várias vezes pelo grito “Fora Temer”. Mais de um orador classificou o governo atual como golpista. Stedile pediu a d. Paulo que rezasse para que o povo se reorganize e volte às ruas para protestar contra Temer e sua
equipe. O professor Fernando Altemeyer, da PUC, leu uma carta de cumprimentos ao aniversariante, em nome do papa Francisco, pelo presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, cardeal Peter Tukson. Num discurso de sete minutos, d. Paulo agradeceu a homenagem com uma vez forte e clara, apesar da idade.
D. Paulo Evaristo Arns é o segundo cardeal mais idoso dos 101 cardeais não eleitores do Colégio Cardinalício. Mais velho do que ele só o cardeal Nashallah Pierre Sfeir, de 96 anos, patriarca emérito maronita de Antioquia em Beirute, no Líbano.
Nasceu em Forquilhinha, em Santa Catarina, no dia 14 de setembro de 1921, numa colônia de imigrantes alemães. Religioso da Ordem dos Frades Menores de São Francisco de Assis, foi ordenado padre em dezembro de 1945 e nomeado bispo auxiliar de São Paulo em 1966. Elevado a arcebispo em 1970, foi feito cardeal em 1973 pelo papa Paulo VI.
Doutor pela Universidade da Sorbonne em Paris, depois de ter estudado Filosofia em Curitiba e Teologia em Petrópolis, onde iniciou sua atividade pastoral numa favela, ao mesmo tempo em que lecionava no seminário. Foi professor de Francês e Letras Clássicas em Agudos (SP).
Como bispo, foi vigário episcopal da Região Norte (Santana) de São Paulo. Nomeado cardeal, foi membro da Congregação para o Culto Divino e Administração dos Sacramentos, do Secretariado para os Não-Crentes e do Secretariado do Sínodo dos Bispos, na Cúria Romana. Renunciou por motivo de idade, ao completar 75 anos em 1996, mas só deixou o governo da Arquidiocese em 15 de março de 1998, quando foi substituído por d. Cláudio Hummes. Reside numa casa de freiras em Taboão da Serra, na diocese de Campo Limpo, região metropolitana de São Paulo.