No dia 22 de setembro, dona Maria Benedita Pereira da Silva foi obrigada a se deslocar de sua casa, no bairro Santa Luzia, em Aparecida, no interior de São Paulo, a uma agência do Poupatempo em Pindamonhangaba para renovar sua cédula de identidade. Aos 115 anos, ela precisou comprovar ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) que está viva para continuar recebendo a aposentadoria.

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Nascida no dia 9 de agosto de 1900, dona Dita, como é mais conhecida, é considerada uma das mulheres mais idosas do Brasil. Ela goza de boa saúde.

Como o ano do seu nascimento é o último do século 19, ela está no terceiro século de vida e acompanhou duas viradas do milênio, duas guerras mundiais e oito trocas de moedas brasileiras. Apesar de ter nascido bem depois da abolição dos escravos, dona Benedita chegou a ser vendida pelo antigo patrão, segundo a nora Lucimara Conceição Bento, de 45 anos, que a acompanhou na troca do documento. “O RG dela estava muito velho, era de quando ela se aposentou, aos 60 anos”, disse.

O caso de dona Dita não é único. As estatísticas de atendimento do Poupatempo mostram que 117 pessoas com mais de 100 anos tiraram a segunda via da carteira de identidade entre janeiro e julho este ano. No ano passado, foram 98, crescimento de quase 20%. Considerando a faixa acima dos 70 anos, o número passou de 110,1 mil nos primeiros sete meses de 2014 para 137,2 no mesmo período de 2015, crescimento de 25%. Confirmando tendência já registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres são a maioria em todas as faixas acima dos 70 – nas mais avançadas, elas já são o dobro em relação aos homens.

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Desde maio de 2012, o INSS passou a exigir renovação de senha e prova de vida dos aposentados e pensionistas que recebem o benefício por meio de conta-corrente, poupança ou cartão magnético. Cerca de 30,7 milhões de beneficiários em todo o País foram convocados para comparecer à agência de recebimento portando documento de identificação com foto. Na impossibilidade, a comprovação pode ser feita por procurador cadastrado.

Além da prova de vida perante a Previdência Social, outro motivo que leva idosos a providenciar a segunda via do RG é a necessidade de resolver questões referentes a imóveis e instituições financeiras. Para evitar fraudes, bancos exigem documentos atualizados – com menos de dez anos – e em bom estado de conservação. Homens com mais de 70 anos e mulheres com mais de 60 são isentos da taxa de segunda via do RG, que é de R$ 31,88.

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Dados do Poupatempo mostram que 137 mulheres e 69 homens com mais de cem anos pediram a segunda via do RG em 2014. Nos primeiros seis meses de 2015, foram 80 mulheres e 37 homens. De janeiro de 2013 a julho de 2015, 17.149 pessoas com idade entre 90 e 100 anos tiraram novo RG. No mesmo período, foram 162.126 pessoas com idade entre 80 e 90 anos.

Aos 100 anos, o aposentado Francisco Lopes esteve no Poupatempo de Bauru para trocar o documento que havia sido emitido em 1977. Dona Hilda Monteiro Terra de Souza, de 96 anos, fez o mesmo em Itapetininga. No caso dela, o documento que portava tinha sido emitido em 1942. A cearense Antonia Rodrigues, de 88 anos, foi levada ao Poupatempo do Itaquera pela filha Elizabete Rodrigues Silva, de 57. Aposentada por invalidez, a idosa nunca havia tirado a carteira de identidade.