Só com vacina!

Anvisa quer exigência de certificado pra evitar turismo antivacina no Brasil

Vacinação em crianças no Brasil deve ocorrer apenas em 2022.
Vacinação em crianças no Brasil deve ocorrer apenas em 2022. Foto: Agência Brasil.

O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, cobrou nesta sexta-feira (26) que o governo passe a exigir o certificado de vacinação contra a Covid para a entrada no Brasil.

A medida, que desagrada o presidente Jair Bolsonaro, evita que o país se torne atrativo para o turismo antivacina, disse Barra em entrevista à Folha de S.Paulo.

“Para evitar que no período de inverno do hemisfério norte, onde pessoas normalmente viajam de férias, e temos ainda a questão do dólar e do euro extremamente valorizados, que não venhamos a ter um turismo antivacina aqui no Brasil”, disse Barra.

A Anvisa propôs ao governo, no último dia 12, a adoção do passaporte vacinal para quem cruza a fronteira do Brasil por terra ou para dispensar uma quarentena de cinco dias após voos internacionais.

Desde dezembro de 2020, o governo cobra a apresentação do teste RT-PCR com resultado negativo, mas não exige quarentena, apesar de a Anvisa sugerir essa medida há meses.

A ideia da Anvisa é evitar que o aumento de casos da Covid-19 registrado na Europa, entre outros locais, também ocorra no Brasil.

A agência também sugeriu nesta sexta-feira barrar viajantes de África do Sul, Botsuana, Suazilândia (Eswatini), Lesoto, Namíbia e Zimbábue para evitar que se espalhe no Brasil uma nova variante da Covid-19 potencialmente mais transmissível, a B.1.1.529.

Barra disse que a agência não sabe de casos suspeitos no Brasil da nova variante.

Os ministérios da Casa Civil, Justiça, Saúde e Infraestrutura vão decidir se acatam ou não as sugestões da Anvisa de controle sanitário de fronteiras. A agência apenas emite opinião.

“Eu não tive ainda o conhecimento da posição do ministro Marcelo Queiroga (Saúde), mas com certeza ele é o interlocutor de grande peso”, disse Barra.

Barra e Bolsonaro conversaram sobre o passaporte vacinal nesta semana. O mandatário apresentou preocupações sobre o impacto na economia, segundo o chefe da Anvisa.

“O presidente sempre enfatiza a independência do trabalho da agência. Depois com apoiadores enfatizou mais uma vez a independência do trabalho da agência. E esperamos que nas próximas horas tenhamos um posicionamento que, na verdade, não é dele, é de seus ministros acatando as notas técnicas que enviamos”, disse Barra.

O presidente da Anvisa disse que o ideal é que as sugestões sejam acatadas no menor tempo possível, ainda que a lei não obrigue nem fixe prazo para isso. “Para nós, já consolidamos aquilo que entendemos ser necessário. Quanto menos tempo levar para ser implementado, no nosso entendimento, é melhor.”

O ministro da Justiça, Anderson Torres, já usou um argumento negacionista para dizer que é contra cobrar a vacinação de quem chega ao Brasil. “Não precisa. Ela não impede a transmissão da doença”, disse ele na quinta-feira (25), na primeira declaração pública de um ministro sobre o pedido da agência.

Barra minimizou a fala de Torres. “Tem uma parte que é correta, quando diz que a vacina não impede [a transmissão], ela só não é completa. Porque, de fato, vacina nenhuma impede 100% nada, nem mesmo aquela que o senhor ministro tomou quando era criança. Mas há uma proteção percentual considerada significativa.”

Na leitura de integrantes da Anvisa, o governo deve aceitar as restrições de entrada de viajantes que passaram pelos seis países com registros da nova variante. Já o “passaporte vacinal” é tema delicado.

Torres acrescenta que as medidas de barrar voos de países da África e exigir o passaporte vacinal não irão necessariamente barrar o vírus, mas amenizar o problema.

“Temos que nos preparar o quanto antes e fortalecer, fechar. Não é fechar o Brasil. A Anvisa, ao contrário, não está propondo manter fronteira fechada, está propondo que se abra com o regramento. A pessoa comprova que está vacinada, se não comprovar pode ser interpelada e deportada. Não estamos propondo fechar, estamos propondo aumentar a segurança”, avaliou.

Nesta sexta, Bolsonaro descartou fechar aeroportos. Para ele, seria ineficaz impedir a chegada de voos internacionais e repetiu que é preciso conviver com a Covid.

“Você não vai vedar [a entrada do vírus], rapaz. Que loucura é essa? Quer dizer, fechou o aertoporto, o vírus não entra? O vírus já está aqui dentro”, disse.

A nota técnica da Anvisa propõe que a vacina seja aplicada 14 dias antes do embarque ao Brasil em voo internacional ou de a pessoa cruzar a fronteira terrestre. A agência argumenta que segue orientação de países como os Estados Unidos, Canadá, Chile, entre outros.

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