A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pretende intensificar as ações de combate à propaganda de bancos particulares de sangue de cordão umbilical, por considerar que os anúncios podem fazer promessas que a ciência ainda não é capaz de cumprir.
Com slogans como “Uma decisão no presente. Um presente para o futuro”, “Um ato de amor para toda a vida”, “O seguro biológico do bebê” e “A vida de muitos filhos e de outros parentes próximos pode ser preservada”, cerca de 25 mil pais e mães no Brasil se convenceram, nos últimos anos, a pagar para congelar o sangue do cordão umbilical e da placenta de seus filhos.
O motivo é a esperança de que, em um futuro próximo, as células-tronco desse sangue venham a ser utilizadas para tratar doenças. No entanto, a Anvisa sustenta que esse marketing dos bancos privados de sangue de cordão é enganoso e antiético.
Por trás das frases da propaganda há promessas de combater doenças do sangue que possam surgir nas crianças – uso que é raro e pouco estudado, segundo especialistas. Há também mensagens de que as células poderão ser aplicadas na medicina regenerativa para tratar, por exemplo, problemas cardíacos que a criança venha a desenvolver – aplicação em estudo e longe de se tornar realidade.
Defesa
A Associação de Células Tronco, que reúne três grandes bancos privados de São Paulo, diz que os tratamentos prometidos são possibilidades. Reconheceu haver abusos no marketing de empresas, mas destacou que são exceção. “Não se pode generalizar. Se há alguém enganando, por que a vigilância não vai e fecha?”, questiona Carlos Ayoub, um dos dirigentes da entidade.
Bancos privados de sangue de cordão umbilical admitem limitações no uso do material coletado, como o fato de ser rara a possibilidade de utilizar o sangue no próprio bebê em tratamentos existentes contra doenças hematológicas. Mas defendem o direito de as pessoas fazerem o congelamento como uma aposta para o futuro, caso a ciência descubra novas aplicações para doenças cardiológicas, hepáticas e distúrbios degenerativos.
Atualmente, cobra-se, em média, R$ 3,5 mil para o congelamento, incluída a primeira anuidade, e depois parcelas anuais de cerca de R$ 500. “O sangue de cordão já está sendo usado em pesquisas clínicas sobre 40 patologias. Nunca vamos dizer ‘guarde e não compre leite’. Mas dizer que isso não deve ser feito porque artistas fizeram propaganda é um absurdo”, afirma Eduardo Cruz, responsável pelo maior banco do País, no Rio, com 17 mil coletas armazenadas.
Nelson Tatsui, de um dos primeiros bancos de cordão paulistas, destaca que o setor já passa por avaliações frequentes da área de propaganda da Anvisa e tem de adaptar comerciais e contratos a pedido do órgão.