Brasília
– Apesar de garantir que novos nomes só sairiam na próxima semana, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem, em Brasília, novas indicações para seu ministério. O Ministério das Relações Exteriores ficará a cargo do embaixador Celso Amorim; o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior será comandado pelo presidente do Conselho de Administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan; o Ministério do Meio Ambiente será de Marina Silva; e o Ministério da Agricultura, o alvo de maior disputa, ficará com o presidente da Associação Brasileira de Agrobusiness (Abag), Roberto Rodrigues.A nomeação de Roberto Rodrigues acaba com a disputa política em torno do Ministério da Agricultura, que era cobiçado por integrantes do PTB e que já estava também entrando na pauta de reivindicações do PMDB. No PT o cargo também despertava cobiça. O núcleo agrário do partido, composto por dez deputados da futura bancada, queria a indicação de um petista que representasse as pequenas produções rurais, como Olívio Dutra, governador do Rio Grande do Sul. A indicação de Rodrigues foi aceita com a condição de que, para o Ministério da Reforma Agrária, seja escolhido um nome com o perfil desejado pela bancada. Mas, segundo fontes do PT, a pasta pode ser oferecida ao PC do B.
Roberto Rodrigues é paulista de Cordeirópolis e tem 60 anos. É engenheiro agrônomo com aperfeiçoamento em administração rural. Foi dirigente nacional de cooperativas agrícolas e presidente da Organização Internacional de Cooperativas Agrícolas. De 1993 a 1994, no fim do mandato do governador Luís Antônio Fleury Filho (então no PMDB), comandou a Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. Por dois anos, de 95 a 97, foi também vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo .
Luiz Fernando Furlan, futuro ministro do Desenvolvimento, é um símbolo forte do industrial exportador de sucesso. Sua indicação é atribuída ao presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva. Amigo do presidente Fernando Henrique Cardoso, Furlan apoiou o ex-ministro José Serra (PSDB) na campanha e nunca participou de reuniões com empresários que apoiaram o PT. Seu nome ganhou força, porém, pela proximidade com algumas idéias petistas: ele defende o fortalecimento do Mercosul e a criação de uma secretaria para o comércio exterior, além de considerar que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) só deve ser viabilizada se trouxer vantagens ao Brasil.
Cotado
O advogado criminalista Márcio Thomaz Bastos, 67 anos de idade e 45 de profissão, é amigo de longa data de Lula e José Dirceu, dois dos seus muitos clientes no meio político é o mais cotado para o Ministério da Justiça. Na década de 80, como presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), integrou o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana, do Ministério da Justiça. Foi ministro do governo paralelo do PT em 1989 e acompanhou Lula nas campanhas de 1994 e 1998. Bastos tem idéias polêmicas: é favorável a descriminação não apenas da maconha, mas também da cocaína e de todas as drogas consideradas ilícitas.
Lapso
Lula pediu desculpas por não ter confirmado oficialmente anteontem o nome da senadora Marina Silva para o Ministério do Meio Ambiente. Segundo ele, foi um lapso de sua parte. “Olha que chique. A Marina foi anunciada direto de Washington. Liguei para ela ontem e disse que ela não havia sido destituída. Foi um lapso mesmo. Um esquecimento”, disse Lula em tom de brincadeira. Lula agradeceu aos novos ministros por aceitarem seu convite. Na quinta-feira, Lula tinha anunciado os nomes de Antônio Palocci (Fazenda), José Dirceu (Casa Civil) e Henrique Meirelles (presidência do Banco Central) “Foi gratificante a lealdade com que vocês aceitaram o meu convite”, afirmou.
Diplomação
Lula e o vice-presidente José Alencar serão diplomados hoje, às 11h, na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília. A cerimônia, que deverá durar 20 minutos, será acompanhada por quinhentos convidados, entre familiares, autoridades e políticos. Desses, apenas cem receberam convites especiais e presenciarão a solenidade no plenário do tribunal eleitoral. Os outros assistirão por meio de telões instalados em salas do TSE.
Gilberto Gil pode ir para Cultura
Rio
– O cantor e compositor Gilberto Gil se reúne hoje, em Brasília, com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com pessoas ligadas ao artista, ele teria sido sondado por assessores de Lula para assumir o cargo de ministro da Cultura do próximo governo. “Ninguém sabe exatamente a pauta da reunião, se é para discutir o convite ou se é para Gil dar sugestões de nomes”, disse um amigo do cantor que não quis ser identificado.Não é a primeira vez que o nome de Gil é lembrado para um ministério. Em 1998, recém reeleito, o presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a sondá-lo para a pasta do Meio Ambiente devido à sua militância no PV e na Ong Onda Azul. Na recente eleição, Gil foi cabo eleitoral de Lula de primeira hora.
Gil não é novato em política partidária. Em 1988, elegeu-se vereador em Salvador pelo PV, mas confessou-se desencantado com o trabalho parlamentar. “Além disso, eu tinha uma carreira direcionada para um lado e nem tudo aconteceu”, explicou ele na época. Financeiramente, o ministério não é um bom negócio para Gilberto Gil. Poucas pessoas que o cercam não acreditam que ele deixará de fazer shows e gravar discos se for para o Executivo, mas certamente o ritmo diminuirá. E o salário de um ministro, na faixa de R$ 8 mil, fica muito aquém do cachê de uma estrela, como ele cobra por um único show.
Genro afirma ter recebido convite
Brasília
– O ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro (PT) afirmou ontem que foi convidado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, para organizar a futura Secretaria Especial de Desenvolvimento Social, que será ligada diretamente à Presidência da República. A secretaria será paralela ao Conselho de Desenvolvimento Social, entidade que representará a sociedade civil.O anúncio foi feito pelo próprio Genro e pelo presidente do PT, deputado José Genoino, que estiveram reunidos com Lula, ontem pela manhã, na Granja do Torto, em Brasília. Apesar de ser chamado para organizar a nova secretaria, Genro negou que tenha recebido um convite para assumir o cargo. “Não houve nenhum convite para ocupar um cargo de responsabilidade em relação à isso. Houve a encomenda para que eu fizesse a organização dessa secretaria e do conselho”, explicou Genro. “Não estou esperando cargo. Não tratamos disso”, completou. “Discutimos políticas e idéias. Não discutimos funções nem indicações e nem discutimos qualquer nome”, revelou Genoino.
O ex-prefeito de Porto Alegre se comprometeu a apresentar os fundamentos da nova secretaria em uma semana. Segundo Genro, o principal objetivo do órgão será estabelecer uma relação pactuada entre o governo, a área empresarial, o movimento sindical e a sociedade.