A Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, que reúne também a Marinha do Brasil, divulgou na tarde desta segunda-feira, 21, o procedimento para realizar uma nova licitação internacional para reconstruir a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), destruída há dois anos e meio por um incêndio que matou dois militares. A previsão é de que a nova estação custe US$ 110,5 milhões. “Este será o valor-teto para essa licitação”, afirmou o contra-almirante Marcos Silva Rodrigues, secretário da comissão.
O governo já tentou, no final de 2012, uma licitação apenas com empresas nacionais, estimada em R$ 147,4 milhões, mas não houve interesse. “As empresas alegaram, principalmente, a questão do câmbio, do estudo de impacto ambiental que não estava completo e o preço, que eles achavam que estavam no limite”, justificou.
O contra-almirante indicou que “o preço (atual) está muito próximo (do valor) da estação coreana, que foi construída pela empresa Huyndai”, destacando que já há interesse na obra por empresas chinesas, sul-coreanas e chilenas. Segundo Rodrigues, a nova rodada “será uma licitação nacional e internacional”, ou seja, pode haver consórcio entre uma nacional e uma estrangeira. “A Marinha está interessada em preservar a política do governo de estimular as empresas nacionais”, disse.
O edital será lançado na próxima quarta-feira (24) no Diário Oficial da União e, no sábado (26) em veículo de imprensa internacional. A partir daí, as empresas terão 45 dias para apresentar propostas, com resultado do certame em outubro. A nova estação terá 4,5 mil metros quadrados.
A principal diferença em relação à licitação frustrada foi a realização de um novo estudo do terreno, que custou R$ 1,3 milhão. “Estávamos prevendo que teria rocha a cada 10 metros (de profundidade), mas vimos que tem a apenas 100 metros”, disse. Entre as novidades da nova estação, estará o novo modelo de cogeração de energia, que será usado também para aquecimento de água. “Nossa matriz de energia vai ser inteligente. Vamos trabalhar com geração eólica, solar e diesel”, afirmou.
Rodrigues destacou o resgate da estação como parte da inserção do Brasil em uma geopolítica científica, com a finalidade de manter “a presença do governo brasileiro e a permanência do Brasil como membro do conselho antártico.” “Quando falamos da Antártica, não falamos apenas do continente em si. Temos 14 milhões de metros quadrados, sendo 98% da superfície coberta de gelo, com 76% da água doce, e 176 tipos de minerais”, observou.
O Brasil chegou à Antártida com uma estação própria em 1984. Em fevereiro de 2012, um incêndio destruiu a base científica e militar. A Marinha iniciou, então, uma operação de resgate dos equipamentos lá instalados para evitar que fosse absorvido pelo gelo. “Depois do desmonte, só sobraram as partes remotas”, disse Rodrigues.
O desmonte da estrutura, instalada em uma região de 2.550 metros quadrados, retirou 9,5 toneladas da partes metálicas. “Em nenhum momento a nossa bandeira deixou de tremular no mastro principal da nossa base”, afirmou.
Depois do desmonte, foi estabelecido um módulo antártico emergencial no local, onde 15 militares permanecem para resguardar o território brasileiro. A desocupação significaria a perda do direito de exploração e pesquisa na estação. “Tínhamos um desafio, que era manter a pesquisa brasileira na Antártida”, finalizou Rodrigues.