A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu nesta quarta-feira, 13, a empresa proprietária do helicóptero que caiu na segunda-feira, 11, em São Paulo, vitimando o jornalista Ricardo Boechat. Também chamada de RQ Helicópteros, a RQ Serviços Aéreos Especializados fica sediada na capital paulista e tinha como um dos sócios o piloto Ronaldo Quattrucci, que também morreu no acidente. A determinação inclui, também, a interdição de todas as aeronaves da empresa.
A decisão considerou que há “indícios” de que a empresa prestava serviços de táxi-aéreo irregularmente, pois tem autorização apenas para registro de imagens e não pode realizar transporte de passageiros remunerado. O processo de investigação foi aberto já na segunda-feira.
Em 2018, a RQ Helicópteros foi multada em R$ 8 mil por um processo aberto em 2011 pela Anac, que identificou a”promoção de propaganda irregular de serviços de voos panorâmicos remunerados” em um site, embora fosse autorizada apenas para realizar “serviços aéreos de aerofotografia, aeroreportagem e aerocinematografia”. Mesmo com a decisão, a empresa continua anunciando os serviços de táxi aéreo e voos panorâmicos em seu site.
Além disso, o processo relata que uma das aeronaves da empresa foi flagrada realizando voos panorâmicos “utilizando aeronave inadequada e sem autorização da autoridade de aviação civil” . “A RQ Serviços Aéreos Ltda não é uma empresa certificada e autorizada a realizar serviços aéreos de transporte de passageiros”, diz a decisão. O Estado tentou entrar em contato com a RQ Helicópteros, mas não obteve retorno.
Ainda segundo a Anac, a aeronave que caiu estava em situação regular, com o Certificado de Aeronavegabilidade (CA) válido até maio de 2023 e a Inspeção Anual de Manutenção (IAM) em dia até maio de 2019. O helicóptero, de matrícula PT-HPG, foi fabricado pela Bell Helicopter.
A Anac também enviou ofícios para as empresas envolvidas na contratação do voo em que estava Boechat. A Libbs Indústria Farmacêutica, a Zum Brazil Eventos e a RQ Serviços Aéreos Especializados têm prazo de cinco dias úteis para responder a partir da publicação do texto no Diário Oficial da União, o que ainda não ocorreu.
Em nota, a Zum Brazil afirmou que “sempre faz uma seleção criteriosa de todos os seus prestadores de serviço”. “A Zum Brazil contratou a RQ Serviços Aéreos Especializados Ltda, que está em situação regular e possui todas as certificações exigidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)”, disse. No comunicado, a empresa também lamentou a morte de Boechat e do pilota do helicóptero e disse estar “à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos necessários”.
Também em nota, a Libbs afirmou que todos estão “profundamente consternados com o falecimento do nosso querido Ricardo Boechat, ícone e referência internacional do jornalismo”. “Ele foi convidado para participar da nossa convenção, em Campinas, neste dia 11, e, como é comum em suas aparições, abrilhantou e fortaleceu a relevância do nosso encontro. Durante 40 minutos ele esteve conosco em um bate-papo no qual imprimiu seu estilo, sempre autêntico e verdadeiro”, diz o comunicado.
A farmacêutica também lamentou a morte do piloto Ronaldo Quattrucci e disse estar “inteiramente solidários à dor das famílias”. Todas as atividades do dia foram canceladas, segundo a nota.
FAB e Polícia investigam causas do acidente
A polícia de São Paulo e a Força Aérea Brasileira (FAB) investigam os motivos para a queda do helicóptero em que estava o jornalista Ricardo Boechat. Na parte policial, as investigações se concentram no 46º Distrito Policial (Perus), no qual foram ouvidos o motorista do caminhão atingido pelo helicóptero e a testemunha Liliane Rafael da Silva.
Nesta terça-feira, 12, a concessionária CCR entregou imagens de uma câmera de segurança que mostram o momento da queda, quando a aeronave perde altura rapidamente. Segundo o delegado titular do 46º DP, Luis Roberto Faria Hellmeister, o vídeo indica que a queda deve ter sido motivada por falha técnica. A princípio, não serão ouvidas novas testemunhas.
Um laudo será elaborado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), vinculado à FAB. Em nota, o órgão informou que os destroços do helicóptero foram encaminhados para análise no Parque Aeronáutico de São Paulo.
Na segunda-feira, investigadores do Cenipa foram ao local da queda para realizar uma “ação inicial da ocorrência”, em fez fotografias, retirou de partes da aeronave, reuniu documentos e ouviu testemunhas. “A conclusão de qualquer investigação conduzida pelo Cenipa terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade do acidente.”