Amorim diz que união bélica é questão política

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que as propostas de criação de um Conselho de Defesa da América do Sul e de integração das indústrias bélicas do Brasil, da Argentina e da Venezuela ainda são "embrionárias" e não passaram do âmbito político para o técnico.

Imaginadas durante o encontro de ontem entre os presidentes dos três países, Luiz Inácio Lula da Silva, Nestor Kirchner e Hugo Chávez na Granja Torto, essas iniciativas teriam o objetivo de recuperar os parques industriais desse setor, que se encontra sucateado, atender as demandas do mercado regional, além de promover o desenvolvimento tecnológico dos países da região.

"Cerca de 50% dos gastos em pesquisa e desenvolvimento dos Estados Unidos se dão no setor bélico. Muitas vezes, resultam em projetos civis, como é o caso aqui no Brasil dos aviões da Embraer", afirmou Amorim. "Mas não estamos pretendendo fazer o mesmo uso que eles (os Estados Unidos) fazem. O Conselho não será contra ninguém", tratou de esclarecer o ministro.

Amorim explicou ainda que a integração da indústria bélica é "idéia entre várias" que podem ser colocadas em prática para a América do Sul e que, em um segundo momento, será submetida aos ministérios da Defesa dos países envolvidos. A criação do Conselho de Defesa da América do Sul surgiu no meio dessas discussões dos presidentes sobre a indústria bélica. Porém, não com o propósito de torná-lo uma "Otan do Sul", como declarou à imprensa o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao final do seu encontro com os colegas Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, da Argentina.

"Lá dentro, não se falou em Otan propriamente", afirmou Amorim. "Talvez o presidente Chávez tenha usado o exemplo da Otan por ser o mais óbvio. Mas, lá dentro, ele se referiu à Junta Interamericana de Defesa", completou Amorim, referindo-se ao órgão da Organização dos Estados Americanos.

O chanceler considerou "bastante razoável" a criação do Conselho que, em seu ponto de vista, daria um caráter mais institucional às reuniões periódicas dos ministros da Defesa da América do Sul aos seus projetos e às iniciativas de combate a ameaças internacionais, como o narcotráfico. Seria ainda um organismo capaz de coordenar a participação dos países sul-americanos em operações de paz das Nações Unidas. Amorim lembrou que boa parte das tropas da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Ministah) é composta por militares do Brasil e da Argentina.

Além do fortalecimento da indústria bélica dos três países da América do Sul, o encontro também serviu para discutir a criação de um banco de investimento para a região, além da construção de um gasoduto, projetos que envolveriam recursos da ordem de US$ 20 bilhões.

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