A presidente do Chile, Michelle Bachelet, recuou e informou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que seu governo apoiará os esforços do Brasil na negociação da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Ouvi do chanceler chileno a reiteração da decisão de trabalhar com o Brasil na OMC", afirmou o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, referindo-se ao ministro Alejandro Foxley. "Mas tudo tem de ser traduzido em uma dinâmica genebrina", completou.

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O recuo do Chile ameniza o mal-estar causado pela iniciativa de um grupo de países latino-americanos e asiáticos – em sua maioria, sócios do Brasil no G-20, uma frente de economias em desenvolvimento que negocia em conjunto o capítulo agrícola da Rodada – de propor um corte de 60% nas tarifas de importação de bens industriais. Essa posição contraria a oferta oficial do Brasil, de redução de 50% nessas tarifas, caso o acordo agrícola seja satisfatório. Para Amorim, a formação desse novo agrupamento foi um dos "mistérios de Genebra, onde está a sede da OMC.

Além do Chile, o México, a Colômbia e Costa Rica também se incorporaram a essa nova frente. A proposta não chegou a causar tremores no Itamaraty, dado que já vinha sendo defendida individualmente por esses mesmos países e recebida como algo insignificante pelos demais sócios da OMC. Todos esses países já aplicam tarifas de importação consideradas muito baixas e mantêm acordos de livre comércio com os Estados Unidos e a União Européia, entre outros.

O corte de 60%, alegaram diplomatas brasileiros, seria como um "corte em água". Mas, se for aplicado a todas as economias em desenvolvimento da OMC, entre as quais o Brasil, haveria um "corte na carne". Em comparação com a atual oferta brasileira, o dobro dos itens do setor industrial seria atingido pelo corte de tarifas. Além disso, a iniciativa causou um constrangimento diplomático para o Brasil.

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