Foto: Ricardo Stuckert/Agência Brasil

Chávez, Kirchner e Lula: aliança estratégica entre Argentina, Brasil e Venezuela para alavancar a integração sul-americana.

continua após a publicidade

Brasil, Argentina e Venezuela decidiram criar o Banco do Sul, um organismo regional de financiamento de projetos sociais e econômicos, e reiteraram o compromisso de construir o Gasoduto do Sul, um projeto de cerca de US$ 20 bilhões que levará o gás das jazidas do Caribe venezuelano para o Brasil, a Argentina, o Uruguai, o Chile e o Paraguai.

Brasília – Aliadas à decisão de integrar as indústrias bélicas dos três países e de compor um Conselho de Defesa da América do Sul, para formular a estratégia defensiva do continente, essas iniciativas deixaram claro o interesse de ampliar o escopo da integração sul-americana a esferas políticas e de tornar a região menos dependente dos organismos financeiros internacionais, que contam com elevada influência dos Estados Unidos.

As decisões estratégicas foram relatadas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, logo ao final da reunião de quatro horas que manteve com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, da Argentina, na Granja do Torto. Nem Lula, nem Kirchner se manifestaram sobre a reunião, na qual a Petrobras não participou, o que indicou o conteúdo menos técnico e mais estratégico do encontro dos três líderes. Nem seu presidente, Sérgio Gabrielli, nem seus diretores foram convidados para a reunião no Torto.

"Consolidamos o Grupo dos Três do Sul", comemorou Chávez, ao indicar a aliança estratégica composta entre Argentina, Brasil e Venezuela como a alavanca da integração sul-americana. Uma nova reunião dos três presidentes já foi programada para o dia 10 de março, em Mendoza (Argentina), na véspera da posse de Michelle Bachelet na presidência do Chile. "Estou mais convencido que chegou o dia da união da América do Sul", completou, logo depois de ter acusado os Estados Unidos de tentar "retardar a integração da região" e de impor medidas contra a liberdade dos povos.

Reservas

continua após a publicidade

Proposta recorrente de Chávez, a criação do Banco do Sul finalmente obteve o aval de Lula e de Kirchner durante o encontro. Conforme relatou o presidente venezuelano, ainda está por ser decidido se essa instituição será uma evolução da Corporação Andina de Fomento (CAF) ou um organismo novo. "A decisão política já está tomada. Podemos colocar (no Banco do Sul) parte das nossas reservas internacionais para o financiamento de programas de desenvolvimento econômico e social", afirmou. "É a independência o que nós queremos."

Segundo Chávez, até julho deverá estar concluído o projeto da construção do gasoduto – que deverá se estender por 7 mil quilômetros e conectar-se, possivelmente, na região de Brasília, com os que partem da Bolívia e do Peru. O presidente venezuelano classificou o projeto como o "eixo estratégico para o futuro da América do Sul" e calculou que os investimentos poderão ser recuperados em um prazo de cinco a oito anos. "Como o preço do petróleo foi para cima, o do gás também pode ir. Se você tem um dólar para investir aí, irmão, invista", declarou.

continua após a publicidade

Chávez, entretanto, agregou duas novas iniciativas na reunião com seus colegas. Primeiro, defendeu a criação de pólos industriais ao longo do Gasoduto do Sul, como ele mesmo batizou o projeto, para agregar valor à matéria-prima e aumentar a capacidade de geração de empregos. A outra iniciativa proposta foi a substituição, pelo menos no Brasil e na Venezuela, do uso da gasolina pelo gás como combustível automotivo e, dessa forma, permitir a elevação das exportações da gasolina. O presidente venezuelano estimou que, até 2020, os ganhos do seu país e do Brasil com essa substituição chegariam a US$ 15 bilhões ou 4 milhões de barris diários de petróleo.

Burguesia

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, qualificou ontem Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, como "um quadro da burguesia brasileira, que é reconhecidamente forte". Também lamentou que seu país não conte com uma classe tão bem estruturada como a que se vê no Brasil. A declaração foi dada à imprensa argentina de manhã, antes de seu encontro com os presidentes Lula e Hugo Chávez, da Venezuela, na Granja do Torto.