A menos de cinco meses da conferência Rio+20, no Rio de Janeiro, autoridades políticas e líderes ambientalistas europeus estão preocupados com a suposta “falta de foco” das propostas feitas pelo governo do Brasil, organizador do evento. As críticas sobre as prioridades brasileiras, antes feitas a portas fechadas, ontem foram externadas em público, durante encontro em Paris. O temor é de que, alargando as discussões, a Rio+20 não resulte em nada.

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A insatisfação começou a ficar clara com o lançamento, no início de janeiro, do chamado Draft Zero – o rascunho de declaração final do evento preparado pelo governo brasileiro e submetido às autoridades estrangeiras e à sociedade civil (mais informações nesta página). O documento estabelece como prioridades da conferência os temas da “economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza” e o “quadro institucional” para alcançar tal objetivo.

Nas 21 páginas do rascunho são citados temas “clássicos” do ambientalismo, como segurança alimentar, agricultura sustentável, gestão racional da água, acesso à energia e o estímulo às fontes renováveis, entre outras propostas. Também têm lugar as novas questões do desenvolvimento sustentável, como a criação de empregos “verdes”.

O ponto polêmico é que a tudo isso a presidência brasileira adicionou temas caros à agenda diplomática do País, como a luta contra a pobreza e a fome, os objetivos do Milênio, as relações Sul-Sul, a crise econômica na Europa e até a “transparência da informação” – que têm pouca relação direta com meio ambiente.

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Segundo o embaixador André Correa do Lago, diretor do Departamento de Meio Ambiente do Itamaraty, o objetivo é devolver ao evento seu caráter histórico, colocando lado a lado temas como economia, sociedade e ambiente. Com base nesses três “pilares”, seria discutida a nova “governança internacional”. “O Brasil não quer que a nova governança seja de meio ambiente, e sim que ela seja voltada para o desenvolvimento sustentável, ou seja, que acentue que o meio ambiente deve estar no contexto social e econômico”, explica Lago.

Entre os exemplos das questões levantadas pelo Brasil para a Rio+20, diz o diplomata, está discutir se a estratégia da União Europeia para enfrentar a crise da Grécia com políticas de austeridade fiscal é o melhor caminho. “Nós passamos por esse tipo de tratamento de choque nos anos 80 e 90 e sabemos que não traz bons resultados em longo prazo”, diz Lago. Pautando esses temas, o Itamaraty pretende fazer da Rio+20 um G20 voltado para discussões sobre o futuro.

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Reação

Ontem, durante a conferência Em Direção a uma Nova Governança Mundial de Meio Ambiente, realizada em Paris, líderes políticos e ambientalistas criticaram as ambições do Brasil. De modo geral, os europeus querem acentuar a discussão ambiental. A França, por exemplo, defende que a Rio+20 se concentre em negociações diplomáticas para a criação da Organização Mundial de Meio Ambiente (WEO, na sigla em inglês).

“Quanto mais falamos sobre crescimento verde e menos sobre governança, mais estamos perdendo o foco”, disse ao Estado a ministra francesa do Meio Ambiente, Nathalie Morizet. Jean Jouzel, vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU que reúne especialistas em clima, também entende que a Rio+20 precisa ser mais conclusiva e menos filosófica. “Quando analisamos por que não andamos mais rápido na proteção ambiental, é também porque faltam instituições para lidar com o tema de forma objetiva”, acredita.

Para Gerard Worms, presidente da Câmara de Comércio Internacional (ICC), a Rio+20 carece de coerência. “Lutar contra a pobreza é importante, mas não é o mesmo que lutar pelo meio ambiente. A causa já é muito vasta e avança pouco. Ou se mantém o foco ou não se avançará.”