Rio – Pouco antes do enterro, no cemitério de Ricardo de Albuquerque, zona norte do Rio, Yamatala Parintintis, ativista da ONG Guardiães Ecológicos da Mata Atlântica e amiga de Júlio, contou que, há uma semana, ele recebeu um carta com os seguintes dizeres: ?Abra o olho que sua hora vai chegar?. De acordo com Yamatala, ele não iria à reunião na terça-feira na Associação de Moradores do Tinguá, justamente por conta das ameaças que vinha sofrendo. A emboscada ocorreu quando ele saía do encontro e caminhava de volta para casa.
?Júlio decidiu ir na última hora, ao receber um telefonema de alguém que pedia para ele comparecer?, contou. Yamatala informou ainda que Júlio havia elaborado um dossiê com informações sobre as irregularidades praticadas na reserva, como a extração de palmito, a retirada de cascas de árvores e a caça de animais silvestres. Possivelmente, afirmou, o documento contém nomes de pessoas que teriam interesse em sua morte. Agora a polícia procura o dossiê. O presidente da associação de moradores, Renato Ferreira contou que cinco pessoas compareceram à reunião: ele, Júlio e outros três. Eles discutiram projetos sociais que beneficiam a população do entorno da reserva.
?Ultimamente, ele estava muito interessado em trabalhar pela saúde da população, em parceria com a Cruz Vermelha?, disse Ferreira, que, naquela noite, deu carona ao companheiro até parte do caminho e chegou a ouvir o tiro que tirou sua vida. ?Ele estava tranqüilo e feliz. Em nenhum momento falou que tinha medo.?.O sepultamento foi acompanhado por ambientalistas e deputados ligados à área ambiental, além de moradores de Tinguá e do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias(PT). Sobre o caixão, foram colocadas as bandeiras do Brasil, de Nova Iguaçu e da Cruz Vermelha. A filha dele, Renata, de 18 anos, chorou muito. Ela pedia para o pai deixar a reserva, temendo por uma emboscada, mas ele insistia em ficar. Depois do crime, três ambientalistas que atuam na reserva e, como Júlio, foram jurados de morte, deverão ganhar proteção policial?.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu com tristeza e consternação a notícia da morte do ambientalista Dionísio Julio Ribeiro, assassinado anteontem à noite, perto da entrada da Reserva Biológica do Tinguá, que ele ajudou a criar em 1989, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Segundo nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o presidente determinou apuração rigorosa do crime para que os responsáveis sejam punidos, o mais rápido possível. Lula lamenta a morte do ambientalista Dionísio Ribeiro, ?a quem o País deve a mais profunda gratidão por sua luta pela preservação da natureza e pela criação da Reserva Biológica do Tinguá.?