Foto: Leopoldo Silva/ Agência Senado |
Para o senador paranaense, a medida não alcançará a Presidência da República, onde ele acredita existir os mais graves problemas. |
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse nesta sexta-feira (1.º de fevereiro) que a tentativa do governo de moralizar o uso de cartões corporativos é apenas "um paliativo", cujos efeitos não alcançarão a Presidência da República, onde ele acredita existir os mais graves problemas no uso desse mecanismo. Dias citou como exemplo dados de uma auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em que, para a despesa de 2006 da Presidência com cartões, de R$ 4,9 milhões, foram apresentadas notas fiscais de apenas R$ 100 mil do total gasto. O argumento para justificar a incompatibilidade entre o que se comprovou e o que realmente foi gasto – segundo ele – era a de que os bens e serviços sem comprovantes se justificariam por questões de segurança nacional. "O que é um absurdo para se manter a clandestinidade das despesas", afirmou.
Para Dias, qualquer medida que não alcance a Presidência é insuficiente e qualquer investigação que não chegue até lá é incompleta "porque é lá que estão os maiores problemas no uso de cartões corporativos". "A resistência incomum no que diz respeito aos gastos com cartões do Planalto permite a todos deduzir que o grande escândalo é lá que está", reiterou. Como indicação da "caixa-preta" que cerca os cartões usados pelo pessoal do Planalto, afirmou que nem mesmo se sabe quantos cartões estão em uso por servidores e agregados da Presidência e nem quem são os portadores.
Requerimento aprovado pelo Senado pedindo acesso aos extratos dos cartões utilizados pelo pessoal do Planalto, segundo ele, foi rejeitado sob a alegação de que a excessiva documentação tornaria inviável a remessa. "Sugerimos que autorizassem um auditor do TCU chegar até esses papéis e eles aceitaram, mas, depois de três dias de trabalho, impediram o funcionário de trabalhar, sempre sob a alegação de que o acesso aos gastos desses cartões comprometeria a segurança nacional", lembrou.
O senador do PSDB do Paraná disse esperar que a Mesa Diretora do Senado examine outro requerimento reiterando o pedido aos extratos dos cartões do Planalto na primeira reunião. Se houver outra negativa, sob a alegação de "relacionar gastos com dinheiro público à segurança nacional", informou que o partido recorrerá à Justiça.
Notas
Outro ponto que, acredita, sustenta as suspeitas foi a negativa da Casa Civil com relação à denúncia de que eram frias quatro notas fiscais encaminhadas ao TCU para justificar o pagamento feito com cartões de artigos de papelaria e cartuchos para impressora. O senador disse que emitidas pela FR. Comércio, Serviço e Representação, ficou comprovado pelo tribunal que a empresa era de fachada e que o encarregado de assinar as notas – cada uma delas de 732 reais – era na realidade um rapaz que trabalhava numa lanchonete instalada na rodoviária de Brasília, sem ligação com nenhuma empresa. Após o Planalto ter negativo a acusação, uma sindicância interna aberta pela Casa Civil comprovou que a mesma empresa – a FR Comércio, Serviço e Representação – emitiu pelo menos 24 notas frias no valor de R$ 11 mil para comprovar despesas do Planalto com cartões corporativos. Na ocasião, a ministra Dilma Rousseff ficou de tomar providências, mas o senador disse que até agora não se sabe se alguém chegou a ser responsabilizado pelo "golpe".