Os protestos de alunos de escolas técnicas chegam à terceira semana após o fim das ocupações na Assembleia Legislativa e no Centro Paula Souza, mas ainda com 12 colégios e diretorias regionais de ensino tomados. Anteontem, o governo prometeu resolver a questão da merenda escolar, oferecendo a opção de lanches ou almoço em toda a rede até agosto, mas os alunos dizem que sobram problemas estruturais, incluindo a falta de materiais em laboratórios, livros didáticos e até de professores.

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Na Etesp, que nos últimos quatro anos obteve a maior nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) da rede pública do Estado, os alunos se sentem esquecidos. “Só lembram da nossa escola quando saem as notas do Enem, mas não investem um centavo em melhorias”, disse Henrique Fornasier, que cursa o 2º ano do curso técnico em eletrônica.

De acordo com os estudantes, em várias salas há goteiras e fios elétricos expostos. Nos laboratórios, faltam materiais e equipamentos atualizados. “No primeiro dia, o professor disse que o extintor era o objeto mais importante de um laboratório. Ele foi pegar para mostrar aos alunos e viu que estava vencido”, disse Beatriz Calderon, de 16 anos, aluna do 3º ano.

Eles ainda relataram que os livros didáticos não chegaram em número suficiente para todos. “Nós trocamos e dividimos, mas é um absurdo”, contou Beatriz.

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Limpeza

Na Etec Professor Basilides de Godoy, na Vila Leopoldina, zona Oeste de São Paulo, que foi ocupada na semana passada, até a limpeza foi afetada. “A escola está desde o começo do ano sem equipe de limpeza por falta de pagamento dos terceirizados. São só duas funcionárias para cuidar da escola inteira”, reclamou a estudante Paula Mancuso, de 17 anos, do 3º ano do ensino médio.

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“E tem bastante goteira na quadra. Quando chove fica alagada”, disse Júlia Cerântola, de 15 anos, do 1º ano. “Tem infiltração nas salas e as paredes estão com a tinta toda estragando”, afirmou Sabrina Pacher, de 15 anos, também do 1º ano.

Outro problema apontado pelas estudantes é que os laboratórios de informática e as oficinas mecânicas são espaços pequenos e os alunos precisam usá-los em grupos restritos. “Não tem computador para todo mundo. E mesmo os que nós temos vivem desligando”, reclamou Paula. As estudantes denunciaram ainda a falta de professores. “Ficamos sem aulas de Português, Matemática, Sociologia e Filosofia”, disseram as alunas. Sem contato com a direção, os problemas causam revolta. “Gostaríamos que a diretoria nos ouvisse, mas nem conhecíamos a diretora até a ocupação.”

Livros ou comida

Na Etec Jaraguá, além da merenda seca (barras de cereais e suco) ser considerada insuficiente, ainda ocupou espaço de livros. Segundo os alunos, a biblioteca foi reduzida para servir como depósito de comida. “Reorganizaram as prateleiras e tiraram mesas. Sentimos falta de alguns livros”, disse uma estudante do 3º ano.

Eles relatam ainda a falta de materiais nos laboratórios e de livros didáticos, principalmente de Literatura. “A gente quase não usa laboratório. Os professores precisam trazer os materiais, como tubos de ensaio, de casa”, disse o estudante Lucas Luiz Cavalcanti, de 17 anos.

Lacuna

Para Celso do Prado Ferraz de Carvalho, especialista em educação profissionalizante, os resultados das escolas técnicas em avaliações educacionais se destacam mais por causa da seleção do que pela qualidade de ensino que oferecem. “Elas têm vestibulinho, então selecionam os melhores alunos, os que estão melhor qualificados. A escola técnica não recupera um aluno que tenha dificuldade.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.