Uma aluna do primeiro ano da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, denunciou ter sido estuprada por um veterano durante uma festa promovida por estudantes de medicina, no final de semana, na cidade. De acordo com a estudante, ela teria aceitado uma carona oferecida pelos veteranos que, ao invés de levá-la para casa, a conduziram até a festa. No local, ela foi forçada a ingerir várias doses de bebidas alcoólicas e a manter relações sexuais com um dos veteranos. O evento faria parte de um trote aplicado pelos veteranos em calouros da universidade.
A garota procurou a Delegacia de Defesa da Mulher para registrar a denúncia de estupro. Em razão de ter sido embriagada, ela não conseguiu fornecer as características físicas do agressor. A vítima realizou exames no Instituto Médico Legal e a Polícia Civil aguarda achegada dos laudos para abrir inquérito. O caso não é o único de violência sexual envolvendo veteranos e calouros do campus de Botucatu. Um coletivo de estudantes criou um blog para discutir as práticas violentas que ocorrem durante o trote. O período de recepção aos alunos se estende do início das aulas, em março, à segunda semana de maio.
No blog, são relatados casos de estudantes que abandonaram o curso depois de terem sido submetidos a trotes violentos, humilhantes e com conotação sexual, incluindo o estupro. As práticas ocorrem fora do campus, em festas organizadas nas repúblicas de veteranos. Os calouros que se negam a participar são excluídos da vida social na universidade. A alunas novatas são abordadas na saída do campus e obrigadas a aceitar caronas dos veteranos, que as levam para suas repúblicas. “As moças estão sendo sequestradas (sim, isso é sequestro) e são levadas para repúblicas masculinas onde são humilhadas e até mesmo estupradas”, denunciou uma internauta.
Uma aluna relatou que os veteranos pegaram as calouras na saída da aula e levaram para festas em que foram obrigadas a simular sexo, caso contrário teriam as cabeças enfiadas no vaso sanitário. “As garotas que se recusam a ir nessas festas podem ser boicotadas pelos colegas e não serão mais convidadas para novos eventos”, informa. Pelo menos uma internauta confirmou ter sido estuprada durante uma dessas festas. A aluna relatou que os calouros ofereceram carona até a Av. D. Lúcio, mas acabaram levando até a casa dos veteranos. “Ninguém perguntou se a gente queria ir. Um marmanjo mais velho, mais alto e mais forte que você enfia um copo de pinga na sua boca
e diz ‘bebe aí, senão você vai ver’, não é violência?”
Um aluno saiu em defesa do trote e alegou que só é “sequestrada” quem quer. “Só bebe quem quer, só faz performance quem quer (as próprias garotas pedem para fazer e pedem para outras garotas fazerem, ninguém é obrigado a nada). E quando à garota ter sido estuprada, não foi. Ela quis ter relações com o veterano da agronomia e se arrependeu depois”, postou. O coletivo de estudantes vai pedir ao Ministério Público do Estado de São Paulo que investigue os casos.
Sindicância.
A Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu informou, por meio da assessoria de imprensa, que os “supostos casos de estupro e de trotes violentos envolvendo alunos do campus de Botucatu da Unesp, vêm sendo objetos de processos administrativos na modalidade sindicância para que sejam feitas as devidas apurações”. Conforme a nota, tanto a comissão central de recepção dos calouros como as comissões das respectivas unidades do campus de Botucatu orientam os veteranos e os novos alunos sobre a proibição do trote.
Entre as orientações está ampla divulgação, via material impresso, pela internet e pelas redes sociais, dos canais de denúncia da Universidade disponíveis para aqueles que julgam ter sofrido ou presenciado abusos de qualquer natureza. “Essas denúncias também podem ser feitas de forma anônima, mas, para a devida apuração, necessitam apresentar elementos factuais concretos que permitam uma apuração”, informa a nota.