Não se trata de preço de hospedagem em hotel cinco estrelas nem de spa de luxo, muito menos de resort, mas o valor cobrado por moradores dispostos a deixar suas casas, nas 12 cidades-sede da Copa, em troca de um dinheiro extra, é de alto padrão. O Mundial, que será realizado entre 12 de junho e 13 de julho, aqueceu o mercado paralelo com valores abusivos, e até proibitivos. Em São Paulo, onde a abertura será na Arena Corinthians, o aluguel mensal de uma casa em Itaquera vai de R$ 20 mil a R$ 390 mil. Pelo País, os exemplos se repetem.
A corretora de imóveis Iracema Pereira da Silva, de 53 anos, colocou sua própria casa para alugar. O imóvel, que fica na Rua das Boas Noites, a 3,4 km ou 40 minutos do Itaquerão, tem quatro quartos e vai custar R$120 mil por 40 dias. O valor corresponde a um ano inteiro de trabalho com comissões.
Se não tivesse na temporada de Copa, ela alugaria o imóvel por R$ 3 mil ou R$ 3,5 mil, diz. “Já recebi telefonema de gente interessada nesse aluguel para a Copa, até mesmo dos Estados Unidos”, afirma. “A casa é grande e comporta de 15 a 16 pessoas, por isso esse valor.”
Segundo a corretora, é alta a procura de moradores na região que pretendem alugar as próprias casas. “Eu estou pegando vários imóveis na imobiliária que o pessoal está querendo pôr para alugar na Copa, com valores de R$ 20 mil a R$ 60 mil. Tem gente que desistiu de fazer o aluguel anual para esperar a Copa e muitos estão mudando da casa da família por um mês”, conta Iracema.
Ela explica que, na região, uma casa pequena, de quatro cômodos e que normalmente teria um aluguel de R$ 600 a R$ 1 mil, durante a Copa vai custar, no mínimo, R$ 2 mil. “Aumentaram demais os valores aqui.”
Foi para ter uma renda extra que o guincheiro José Paulo Tucillo, de 57 anos, colocou suas duas casas para alugar, em Itaquera, na zona leste, pelo valor de R$ 50 mil cada. O total que ele espera receber no período de 30 dias, R$ 100 mil, é o que toda a família – ele, a mulher e a filha – recebe em um ano de trabalho. “Vamos tentar alugar pelo menos uma casa. Se der, ótimo, se não der, não perdemos nada”, diz. As duas casas têm dois quartos e um banheiro cada e ficam no mesmo terreno.
Ele resolveu colocar os imóveis para alugar depois que uma vizinha alugou seu sobrado por R$ 100 mil. “Para deixar a casa vazia, a moça já até se mudou de lá. Vamos ver se conseguimos também.” Caso sejam alugadas as casas, ele e a família vão se mudar para um cômodo que fica nos fundos do terreno. “Vai ser um período que todo mundo vai ficar junto, mas que depois pode garantir a reforma e ampliação”, afirma.
Nas alturas. Na internet ou em imobiliárias sobram imóveis para alugar, com anúncios com fotos e explicações em inglês. Para atrair os turistas, além do aluguel, alguns proprietários oferecem até serviço de busca e entrega no aeroporto e passeios pela cidade.
Apesar dos mimos, os preços surpreendem. Um apartamento de 72 metros quadrados, com três quartos e dois banheiros, no Condomínio Chimboré, na Rua Surucuás, número 730, na Cidade AE Carvalho, é ofertado por R$ 393.405.
O anúncio foi publicado no site Airbnb, especializado em locação para temporada. Com o valor seria possível comprar mais um apartamento e sobraria dinheiro. Um imóvel semelhante custa R$ 230 mil. Segundo a última tabela do Sindicato da Habitação (Secovi), de janeiro, o apartamento seria alugado no bairro por R$ 1.097,28 a R$ 1.203,12. Nem tudo, porém, está perdido para o turista. “É uma oportunidade única, mas podemos negociar”, diz Tucillo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.