Brasília – Apesar dos esforços do chefe da Casa Civil, José Dirceu, para retomar o comando dessa articulação diante do fraco desempenho do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, na votação do novo salário mínimo no Senado, há quem acredite que é chegada a hora de providenciar a volta de Dirceu para a Câmara.
A avaliação de pelo menos parte dos aliados é de que o ex-todo poderoso Dirceu virou fator de desestabilização para o governo por causa de sua guerra nos bastidores com Aldo Rebelo, que seria reconhecido hoje como um articulador mais habilidoso tanto pelos governistas quanto pela oposição. Seu retorno à Câmara ainda é considerada uma operação delicada, que poderia ganhar força se a proposta de emenda constitucional que autoriza a reeleição para as presidências da Câmara e do Senado fosse definitivamente enterrada.
“A crise”
Isto vem acontecendo porque, nos últimos meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a conviver com um problema inesperado no governo. “A crise”, como vem sendo chamado Dirceu, que está instalado numa ampla sala no quarto andar do Planalto, logo acima do gabinete presidencial. Parte das tormentas que têm preocupado a cúpula governista chama-se José Dirceu, o ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil do governo petista.
Com o estopim curto, Dirceu tem dado declarações públicas que constrangem colegas da Esplanada. Vê conspirações até mesmo entre os aliados, quando não enxerga o tucano José Serra por trás de supostas armações para enfraquecê-lo. Na tentativa de acalmar o auxiliar e amigo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o convidou para acompanhá-lo na viagem que faz esta semana a Nova York.
O presidente não esconde mais sua irritação com o que considera uma disposição bélica de Dirceu. Até quando tem a intenção de defender o PT e o governo, Dirceu acaba contribuindo para desagregar a base de articulação política. Segundo interlocutores, Lula estaria atônito com as atitudes recentes de Dirceu. Na avaliação do presidente, o chefe da Casa Civil foi uma peça fundamental no primeiro ano de seu governo.
Segundo um ministro próximo de Lula, o balanço do que ocorreu semana passada deu a real dimensão ao presidente de que é preciso dar um basta nas brigas em que Dirceu está envolvido. A semana começou com a suspeita de que a Casa Civil centralizaria investigação sobre a existência de supostos espiões no Palácio do Planalto e terminou com a derrota expressiva do governo, que não aprovou no Senado a medida provisória do salário mínimo de R$ 260.
Sem paciência
Segundo assessores palacianos, Lula está no limite de sua paciência e cada vez mais decidido a enquadrar o chefe da Casa Civil. No primeiro ano do mandato de Lula, Dirceu despontou como o homem forte do presidente e construiu a imagem do articulador político eficiente. Controlava nomeações para os cargos federais e opinava em todas as áreas. Montou grupos de trabalho sobre os mais diversos temas, de biossegurança e alimentos transgênicos a infra-estrutura. Agia como primeiro-ministro.
Desde que foi alvejado em fevereiro pelo caso Waldomiro Diniz (que trabalhava como assessor da Casa Civil e foi flagrado pedindo propina a um bicheiro antes de ir trabalhar no governo federal), Dirceu está cada vez mais isolado no coração do poder. Ele tem demonstrado destempero em suas aparições públicas. Preocupou o Planalto a informação de que Dirceu chegou a bater boca até com comissários num recente vôo de volta de Buenos Aires. O próprio ministro confidenciou a parlamentares petistas que sua insônia aumentou.
Perda de poder irrita ministro
Brasília
– O ministro José Dirceu tem demonstrado seu inconformismo com a falta de espaço e poder desde que Lula fez a reforma ministerial, em janeiro. A articulação política foi transferida para o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Numa recente conversa com Lula, o chefe da Casa Civil desabafou: “Não consigo cobrar atuação no governo se não tenho força”.O principal alvo de Dirceu no momento é Aldo, o que, na avaliação do presidente, prejudica a articulação política. “Não entendo por que o Zé Dirceu estaria incomodado comigo. Até porque não disputo o poder em São Paulo e muito menos no PT”, disse Aldo a um amigo.
Um parlamentar próximo de Dirceu conta que o chefe da Casa Civil havia cedido a coordenação política, em janeiro, mas tinha em mente uma estratégia de continuar controlando cargos e emendas do governo. No entanto, com as mudanças no cenário político, Aldo passou a ter o comando de fato de sua pasta e hoje controla cargos e emendas, instrumentos fundamentais para um bom desempenho no cargo.
Semana passada, ao ser perguntado por Lula sobre o envolvimento da Casa Civil no episódio dos espiões no Planalto, Dirceu manifestou sua indignação: “Sou o culpado de tudo o que acontece neste governo!”. Dirceu sabe que está perdendo poder e decidiu refazer sua estratégia. Para amigos, diz que vai entrar de cabeça nas eleições municipais para ajudar o PT a conseguir vitórias expressivas. Segundo Dirceu, sua maior fonte do poder está no comando partidário e por isso é preciso realimentar-se deste poder para tentar dar a volta por cima no governo Lula.