Aliados de Severino em guerra contra o Senado

Brasília – Irritado com a postura do presidente do Senado, Renan Calheiros, na discussão do reajuste do salário dos parlamentares, o PP divulgou ontem que o reajuste não era uma bandeira defendida apenas pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. A bancada do PP admite que Renan tinha o direito de ser contra o reajuste, mas não gostou da postura do presidente do Senado, que, segundo o PP, teria saído do episódio posando de "bonzinho" para o opinião pública e desgastando a Câmara.

Defensor do reajuste dos salários, o deputado João Caldas, que é do PL de Alagoas, disse que vai propor que a mesa da Câmara faça um levantamento de todos os benefícios dos senadores para mostrar à sociedade o custo de um senador. Segundo ele, os senadores têm uma série de vantagens que os deputados não têm. "Os deputados vivem numa desvantagem enorme. Tudo nosso é limitado e no Senado é ilimitado. Nós ficamos numa pindaíba danada. Não queremos igualdade com o Senado, mas apenas mostrar à sociedade o que representa o custo de um senador para o país. Dizem que o Senado é o céu e é mesmo", ironizou.

João Caldas protestou contra a postura de Renan dizendo que ele teria tirado proveito da situação. "Não podemos deixar que tirem proveito político dessa situação. O problema é a forma como isso foi colocado no Senado, como se a Câmara fosse a vilã e nenhum senador quisesse a equiparação com o Supremo. Não adianta a queda-de-braço, isso não será bom para a instituição. Não é bom num momento desse qualquer das Casas fazer um jogo de platéia", protestou.

O segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), também atacou Renan e disse que a postura do presidente do Senado prejudica a relação com a Câmara. "Foi uma surpresa para a Casa a forma como ele reagiu. Sair de bonzinho da história não foi muito bom para o relacionamento com a Câmara", disse Ciro Nogueira, um dos mais próximos a Severino.

João Caldas admitiu, no entanto, que a proposta não tinha o apoio da opinião pública. "Nós não vamos deixar o Severino com a broxa na mão, mas temos que ser sensíveis à pressão da sociedade. Só eu recebi 400 e-mails contra a proposta", disse João Caldas. Já Severino Cavalcanti preferiu não externar sua opinião sobre a decisão de Renan. Indagado se o presidente do Senado teria tirado proveito da situação para ficar bem com a opinião pública, Severino disse que não. "Não, ele foi muito bem. Ele fez o que a sociedade queria." Indagado se tinha ficado chateado com Renan, Severino respondeu: "Não, absolutamente".

Embora evitando polemizar com o presidente do Senado, Renan Calheiros, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, deixou claro que não gostou da postura de Renan na discussão do reajuste dos parlamentares. Severino disse que respeita os outros e que não agiria como ele. O que mais irritou o PP, partido de Severino, é que Renan teria dito que conversaria com os líderes do Senado para discutir a solução proposta por Severino e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, mas antes disso convocou entrevista e anunciou que o reajuste estava fora da realidade. 

"Não dá para enfiar goela abaixo"

Brasília – O presidente do Senado, Renan Calheiros, disse ontem que considera assunto encerrado a discussão sobre o aumento salarial de parlamentares. Renan disse que quarta-feira, ao ser procurado pelos presidentes da Câmara, Severino Cavalcanti, e do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, disse a eles que precisava conversar com os líderes no Senado antes de assumir qualquer compromisso e que logo depois informou que não assinaria a proposta de dar o reajuste sem passar pelo plenário. "O assunto está encerrado e me parece difícil aprovar até mesmo na Câmara", disse Renan.

Indagado sobre a afirmação do segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), de que ele teria ficado com o papel de estadista, enquanto Severino e a Câmara se desgastaram, o que poderia comprometer a harmonia entre as duas Casas, Renan respondeu que nem a Câmara nem o Senado podem "enfiar nada goela abaixo" um do outro e que é preciso harmonizar a relação. "Não dá para a Câmara enfiar nada goela abaixo do Senado nem o Senado enfiar nada goela abaixo da Câmara. É importante harmonizar a relação das duas Casas. Em relação a meu comportamento, todos sabem que eu sempre me recusei a antecipar qualquer decisão sobre o assunto, mas sempre alertei que o Senado não votaria nada que estivesse em desacordo com a sociedade." Indagado sobre o projeto do STF que reajusta os salários dos ministros de R$ 19.115 para R$ 21.500, Renan disse que o Senado só vai se pronunciar quando o assunto chegar à Casa.

Aécio critica aumento para o STF

Belo Horizonte – O recuo do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), na questão do aumento salarial dos deputados foi considerado ontem "oportuno" pelo governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), que cobrou a mesma medida em relação ao projeto de lei que propõe o reajuste dos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos últimos dias, Aécio elegeu a proposta de reajuste dos salários dos ministros do STF como alvo principal de suas críticas, argumentando que se ele for aprovado terá "um impacto devastador" nas contas estaduais.

"Acho que ele (recuo) deve ocorrer também em relação aos salários dos ministros do Supremo, porque esses trazem um efeito cascata para o Estado", disse o governador mineiro, calculando em cerca de R$ 400 milhões o impacto do reajuste do Judiciário no custo com a folha de pagamento em 2005 e no próximo ano.

Aécio disse que ?o Estado prefere investir esses recursos no seu desenvolvimento, na área da saúde, na área da educação, na área social". "Que essa medida sábia do presidente Severino possa ter também a sua conseqüência na proposta de alteração dos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Eu acho que é uma vitória do bom senso", concluiu.

O líder do governo na Câmara, professor Luizinho (PT-SP), afirmou ontem que é importante votar o projeto de lei que estabelece o teto salarial dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O limite de salário dos ministros do Supremo serve de teto nacional global para todos os servidores e de base de cálculo para os salários da magistratura da União e dos estados.

O projeto que fixa os subsídios dos ministros foi enviado ao Congresso no fim do ano passado. O texto propõe a fixação do teto salarial dos ministros do STF em R$ 21.500 mensais, a partir de janeiro deste ano, e em R$ 24.500, em 2006. Segundo Luizinho, o projeto é uma exigência constitucional para que o País tenha um teto salarial e o Legislativo deve respeitar sua própria decisão. "Hoje as pessoas ganham o que querem", afirmou o líder do governo. Sobre um possível aumento salarial para os congressistas com a equiparação de salários entre os parlamentares e os ministros do Supremo, o deputado disse que esta é uma questão interna do parlamento e que o governo não vai se pronunciar.

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