Alencar cobra decisão e diz que BC fez pirraça

O presidente interino da República, José Alencar, voltou a atacar ontem a política de juros altos do governo. Mesmo evitando falar sobre as taxas de juros, pois, segundo ele, da última vez a Selic não caiu porque ele falou do assunto, Alencar disse em Brasília que a o Copom não baixou os juros “de pirraça”. “Sobre Copom eu não falo, porque disseram que os juros não baixaram porque eu falei. De pirraça, eles não baixaram”, disse.

São Paulo e Genebra -Enquanto isso, em Genebra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não se baixa juros com “bravatas”. “Isso se faz com passos bem dados, no momento certo de fazer as coisas”, declarou. O presidente disse estar tranqüilo e declarou que confia plenamente no ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Segundo ele, na hora certa as coisas vão acontecer.

Alencar, por sua vez, disse que a questão dos juros não pode ser mais uma decisão econômica e sim política, pois tudo o que foi feito até agora pelos economistas está dando errado. Perguntado se ele apoiaria uma espécie de cruzada contra os juros altos, Alencar disse que se o Brasil inteiro se unir em torno desse assunto, “estaremos fazendo um serviço ao País.”

Lula, que está em Genebra para participar de uma reunião extraordinária da Organização Internacional do Trabalho (OIT), afirmou que conversa sobre juros diariamente e disse entender a necessidade de se baixar as taxas. “Mas baixar juros não se faz com bravata. Existe um outro tipo de juros. Esse que afeta diretamente o consumidor, que chega às pessoas a mais de 60%.” Ele lembrou, inclusive, que os juros cobrados no cheque especial chegam a ser superiores a 100%. Segundo o presidente, nenhum país consegue crescer se as taxas de juros oferecidas pelo sistema financeiro forem maiores do que as advindas da produção.

Contrariedade

A politização da política monetária, no entanto, contraria as opiniões da equipe econômica. Ela serviria, de acordo com Alencar, para combater as ameaças de deflação, de retração da economia e de aumento do desemprego. “Do ponto de vista de filosofias das taxas de juros, precisamos de decisões políticas, porque tecnicamente, (as decisões do Banco Central) têm dado errado”, afirmou.

Com a taxa em 26,5% ao ano, que vigora desde fevereiro, a atividade produtiva e o consumo são prejudicados. As compras a prazo no comércio e os pedidos de empréstimos pelas empresas, por exemplo, perdem força, reduzem o ritmo de crescimento da economia e, por conseqüência, inibem a criação de novos empregos.

Como resultado desse ciclo, no primeiro trimestre deste ano o país manteve-se praticamente estagnado do ponto vista econômico e a taxa de desemprego em São Paulo chegou a 20,6%, recorde histórico conforme o Dieese. “Como vamos gerar emprego e acabar com o subemprego sem crescer? E como vamos crescer se a Selic é de 26,5%?”, questionou Alencar. “Os investimentos só advirão quando a taxa de juros for compatível com a atividade produtiva”, afirmou. “Você tem que adotar juros elevados para inibir o consumo e os investimentos, mas nós somos um país de subconsumo. Não se pode diminuir o consumo de quem não consome”, ponderou. “O Brasil está correndo o risco de pagar de juros um terço da carga tributária”, completou.

Mal-estar

Por fim, após descarregar as críticas e opiniões controversas sobre os juros e BC, Alencar disse que suas opiniões não causam mal-estar no governo. “Somos da mesma família”, assegurou. “Ele (o Lula) sabe que eu sou, não só um aliado, mas um admirador dele.” O vice-presidente afirmou ainda que a inflação que é combatida pelo BC é uma “herança nefasta” do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “A inflação não é de demanda, é de custos”, disse. Alencar afirmou que a responsabilidade pelos índices no ano, acima das expectativas, é dos preços administrados, principalmente energia elétrica e telefonia. O aumento das tarifas dos serviços está atrelado à inflação, o que pode ser alterado pelo governo atual.

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