Brasília – O vice-presidente José Alencar afirmou ontem que confia no apoio do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para assumir o Ministério da Defesa a partir de segunda-feira. Alencar tenta contornar a crise na pasta após a demissão do ex-ministro José Viegas, que bateu de frente com o comando do Exército.
“Nós vamos fazer um trabalho visando os elevados objetivos nacionais”, disse Alencar. Segundo ele, Exército, Marinha e Aeronáutica demonstraram “total disponibilidade” para ajudá-lo no ministério. O vice-presidente já se reuniu ontem com o ministro da Casa Civil, José Dirceu, para tratar de assuntos relacionados ao novo cargo. “Há determinados assuntos da Defesa que passam pela Casa Civil”, explicou. Ao nomear Alencar para ministro da Defesa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta pôr fim ao mal-estar dentro da pasta.
Viegas responsabilizou a nota divulgada pelo comando do Exército em relação a fotos que seriam do jornalista Vladimir Herzog como estopim para sua demissão. Em carta entregue a Lula, Viegas diz que a nota, emitida sem seu conhecimento, foi “totalmente inadequada”. Na semana do episódio, Lula cobrou do então ministro uma retratação por parte do Exército, que divulgou uma nova nota, alterando o contexto anterior. O comando do Exército havia divulgado nota tentando justificar o golpe de 1964 e chamou de “subversivos” grupos contrários ao regime militar. Viegas afirmou ainda que essa nota representa “um pensamento autoritário”. O ex-ministro disse também que julga necessário “uma atribuição mais efetiva de responsabilidades” em relação à nota.
A queda de Viegas já era prevista na possível reforma ministerial que Lula fará no fim do ano. Ele também vinha encontrando dificuldades dentro da Defesa para discutir a abertura ou não dos arquivos da ditadura. Ministro civil, Viegas também bateu de frente no reajuste dos militares.
Mas Alencar vai enfrentar outros desafios: o setor aéreo, por exemplo, tem pressa. Mal a troca de comando no Ministério da Defesa acaba de ser anunciada, parlamentares, empresas e trabalhadores preparam-se para se apresentar ao novo ministro, José Alencar. O setor, na prática, quer a continuidade das políticas em vigor para a aviação e tentar acelerar o pacote de reestruturação que vem sendo anunciado nos últimos meses, mas ainda não saiu do papel. Um dos receios é de que a mudança de ministro atrase o plano de reestruturação setorial. A transmissão de cargo para José Alencar vai ocorrer na próxima segunda-feira, às 11h, no Palácio do Planalto.