Aldo Rebelo quer PT mais responsável

Brasília (AG) – Ao receber nova tarefa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, cobra um comportamento mais agregador e de maior responsabilidade do PT. Para ele, o partido tem de ser ?a força capaz de unir a ampla base social, política e partidária que apóia Lula?. O ministro, que propõe maior participação dos aliados no Executivo, argumenta que ?o PT deve considerar que nas últimas eleições partido algum teve mais de 17% dos votos?. Depois de meses de fritura e de sobreviver à reforma ministerial quando todos os ministros petistas garantiam sua queda, ele lembra, sutilmente, que nasceu no Nordeste: ?Estou habituado a temperaturas elevadas?.

O que muda na articulação política do governo a partir de sua confirmação na Coordenação Política?

ALDO REBELO: A retomada exige um contato com os líderes de nossa base na Câmara e a construção de nossa agenda no Congresso. Vamos estabelecer as prioridades do governo e negociar com a oposição.

Nessa nova fase o governo pretende envolver os ministros políticos neste trabalho?

ALDO: Todo governo tem entre seus ministros aqueles que possuem maior aptidão para o desempenho das tarefas políticas. O governo dispõe de quadros de grande experiência e este trabalho coletivo é que deve produzir a sustentação parlamentar do governo nas futuras batalhas.

Como o senhor pretende trabalhar diante da visível má vontade do PT com sua presença na coordenação política?

ALDO: Nunca percebi a má vontade do PT. Quando exerci a liderança do governo na Câmara, sempre tive no líder Nelson Pellegrino (PT-BA) e na bancada do PT um apoio fundamental para aprovar os projetos de interesse do governo. Tenho com o presidente do PT, José Genoino, um relacionamento de ampla cooperação. Considero natural que o partido do presidente aspire ao exercício da coordenação política. Mas penso que a escolha é do presidente.

Como o senhor atravessou este longo processo de fritura?

ALDO: O senhor sabe que eu sou nordestino. De uma região do País com clima quente, de temperaturas elevadas e de baixa umidade. Até mandei tirar o ar condicionado de meu gabinete para compatibilizar a temperatura do meu ambiente de trabalho com a da minha região de origem. Estou habituado a temperaturas elevadas.

Durante estes meses de hostilidade por que o senhor não chutou o balde?

ALDO: Creio que quem tem o objetivo de servir aos interesses do País e do povo, tem de ter muita paciência, perseverança, muita generosidade. Num país tão carregado de desequilíbrios e deformações como o nosso, os conflitos de interesse presidem as relações sociais e políticas. Nós temos que administrá-los com espírito de tolerância.

Onde o senhor encontra forças diante da adversidade?

ALDO: Creio que nossas adversidades são muito pequenas comparadas com aquelas que enfrentaram nossos antepassados. Difícil foi a tarefa dos negros, dos índios e dos mestiços nordestinos para expulsar os ocupantes holandeses no século XVII. Difícil foi romper com os laços que nos ligavam ao império colonial português. Difícil foi a luta pelo fim da escravidão.

Como reconstruir a maioria governista da Câmara? O presidente Lula vai se envolver diretamente neste trabalho?

ALDO: O presidente é o comandante político da base. Ele delega algumas destas funções a ministros e a seus líderes. Mas o presidente é insubstituível nesta função e ele está determinado a nos oferecer um apoio maior no exercício das nossas funções na coordenação política de nossa base.

Os aliados se queixam do predomínio do PT na ocupação de cargos federais nos estados. Como isso será enfrentado?

ALDO: Nossa coligação existe em função da retomada do crescimento da economia, de gerar empregos e de distribuir renda. Mas também pensamos que os partidos aliados devem participar da administração. Um partido não pode votar com o governo no Congresso e não ser governo no Executivo. Existe esta aspiração por um equilíbrio maior entre o peso político dos partidos e sua participação. Acho esta aspiração legítima.

Vai haver redistribuição de espaços. Como se fará isso?

ALDO: Esta não é uma tarefa minha, é de todo o governo. É preciso examinar os mecanismos que estabeleçam um equilíbrio maior na participação dos aliados no governo.

O senhor faz algum exercício de relaxamento para lhe dar esta tranqüilidade?

ALDO: Não tive necessidade.

Como será conviver com o ministro José Dirceu depois de tanta animosidade?

ALDO: Vai ser como sempre foi. Uma convivência respeitosa e cooperativa. Nunca recebi dele qualquer demonstração pessoal ou política de hostilidade. O que deve ser posto é o desafio do PT de cumprir duas exigências: ser ao mesmo tempo a força política principal do governo e a força dirigente capaz de unir as expectativas desta ampla base social, política e partidária que apóia o presidente Lula.

Que postura deve ter o PT para ser esta força dirigente?

ALDO: O PT deve considerar que nas últimas eleições nenhum partido teve mais de 17% dos votos. O PT foi o mais votado para prefeito e o PMDB para vereador. Há um equilíbrio muito grande entre os partidos. Destacam-se o carisma e a força do presidente Lula, que precisa dessa ampla união de forças para vencer os desafios de governar o Brasil com democracia, com justiça social, com distribuição de renda. O governo do presidente Lula não pode se isolar politicamente nem governar apoiado em um único partido.

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