Alckmin diz que SP tem água para 5 anos de seca; uso de volume morto é proibido

A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) decretou na segunda-feira, 7, o fim da crise hídrica em São Paulo, pouco mais de dois anos após seu início declarado. Em evento na capital paulista, o governador disse que a “questão da água está resolvida” e justificou o anúncio dizendo que o Sistema Cantareira, o mais afetado pela seca, chegou a quase 60% da capacidade. Esse índice, contudo, inclui as duas cotas do volume morto do manancial, cuja autorização para captação foi suspensa na segunda-feira pelos órgãos reguladores do sistema.

“A questão da água está resolvida, porque nós já estamos chegando a quase 60% do Cantareira e 40% do Alto Tietê. Isso é água para quatro, cinco anos de seca”, afirmou Alckmin durante palestra na Associação Comercial de São Paulo, no centro da capital paulista. “E teremos, a partir do ano que vem, uma superestrutura em São Paulo. A região metropolitana estará bem preparada para as mudanças climáticas”, completou, referindo-se às obras do Sistema São Lourenço e da transposição de água do Paraíba do Sul para o Cantareira, previstas para 2017, que devem trazer para a Grande São Paulo mais 11,5 mil litros por segundo, o suficiente para atender 3,4 milhões de pessoas.

Segundo balanço divulgado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o Cantareira tinha na segunda-feira 58% da capacidade, incluindo a reserva profunda. Sem o volume morto, o índice era de 28,7%, patamar que não era atingido desde 22 de dezembro de 2013, antes de a crise ser anunciada. Sem contar a fase crítica, contudo, é o nível mais baixo para o início de março desde 2004, quando o sistema também sofreu estiagem. Março marca o fim do período chuvoso, que começa em outubro.

Uma resolução conjunta assinada ontem pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), subordinado a Alckmin, revogou as autorizações concedidas à Sabesp em julho e novembro de 2014 para captar as duas cotas do volume morto do Cantareira. Ambos afirmam de que não há previsão de que seja necessário usar a reserva novamente. Na prática, a medida faz com que os 287,5 bilhões de litros extras só voltem a ficar disponíveis para captação mediante nova autorização dos órgãos.

Em entrevista concedida há três semanas, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, defendeu que o volume morto fosse incorporado ao sistema e disse que a crise hídrica ainda não havia acabado. Mas em entrevista publicada ontem pelo jornal Diário do Grande ABC, ele também decretou o fim do problema de abastecimento. Questionada pela reportagem, a Sabesp afirma que, mesmo sem contar com a reserva profunda, a quantidade de água nas represas hoje já supera março de 2014, quando o sistema tinha 15,8% na mesma data.

A companhia destacou ainda a volta das chuvas acima da média no Cantareira, que elevaram em 55,4% a entrada de água no sistema na primeira semana de março, em relação à média histórica do mês. Na comparação com março de 2014, o pior da história, o avanço é de 441,8%. Apesar do declarado fim da crise, a Sabesp não decidiu se vai acabar com o programa de bônus para quem economiza água e com a multa para quem aumenta o consumo.

Prematuro

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que a situação hídrica hoje é “mais confortável” do que nos dois últimos anos, mas que decretar o fim da crise é “prematuro”. “Historicamente, o Cantareira tem muito mais do que 30% nesta época do ano. Antes da crise, em 2013, eram 57%. Não considero um nível de segurança, uma vez que estamos no fim do período chuvoso e o prognóstico do segundo semestre é de redução do volume de chuvas com o fim do El Niño”, disse Pedro Côrtes, especialista em recursos hídricos e professor da Universidade de São Paulo (USP).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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