Brasília – Após uma polêmica internacional sobre as ambições brasileiras no campo nuclear, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) aprovou o funcionamento da fábrica de enriquecimento de urânio de Resende, segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos.
Com o aval da AIEA, a unidade nuclear de Resende será a primeira fábrica de enriquecimento de urânio no País. A aprovação se deu após a inspeção de técnicos a parte das instalações da fábrica. Desde abril, a verificação da unidade nuclear por técnicos da AIEA tem sido motivo de conflito entre a agência e o governo brasileiro. O Brasil se negava a permitir a "inspeção visual" das centrífugas da fábrica, alegando preservar a tecnologia nacional – as centrífugas utilizam uma tecnologia de ponta ainda não dominada pelos demais países.
A agência, por sua vez, fazia questão da inspeção para assegurar as intenções pacíficas do programa brasileiro. Um artigo da revista norte-americana Science chegou a afirmar que a usina de Resende poderia produzir combustível para até seis ogivas nucleares por ano. Durante as negociações, o governo brasileiro propôs melhores condições de visibilidade de tubos, válvulas e conexões, por onde entra e sai o material. A agência passou a considerar a hipótese de inspecionar a fábrica sem ‘acesso irrestrito’ às instalações.
O principal segredo da tecnologia nacional de enriquecimento de urânio permaneceu desconhecido para os visitantes: as centrífugas. Organizadas em grupos denominados cascatas, as centrífugas brasileiras rodam sem eixo, sustentadas por campos eletromagnéticos. Para que a fábrica entre em funcionamento, resta terminar o licenciamento de segurança por parte da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), o que deverá estar concluído até a primeira quinzena de dezembro.
Ontem, os ministérios das Relações Exteriores e de Ciência e Tecnologia divulgaram uma nota conjunta, na qual afirmam que a última visita dos técnicos da AIEA ocorrida nos dias 16, 17 e 18 de novembro foi bem-sucedida para ambos os lados. Essa visita teve o objetivo de verificar as informações fornecidas no Questionário de Informação de Desenho, passo necessário à entrada em operação da planta industrial da fábrica das INB de enriquecimento de urânio. A nota diz ainda que "todos os procedimentos estabelecidos para a visita de verificação foram cumpridos, não tendo sido deixado nada por fazer". Com esta declaração, o Brasil espera ter colocado ponto final em uma recente polêmica internacional, cujos objetivos nunca foram muito claros.