O número de doenças relacionadas à falta de saneamento básico adequado vem crescendo na região metropolitana de São Paulo – o que fica claro quando ocorrem enchentes. Nos bairros periféricos são registrados surtos de hepatite A e de doenças diarreicas. A contaminação pode acontecer pelo contato com água poluída, com urina, fezes humanas ou de animais, por bactérias ou vírus. Doenças transmitidas por água são responsáveis por mais de 63% das internações pediátricas no Sistema Único de Saúde (SUS) no verão, de acordo com o infectologista Artur Timerman, do Hospital Albert Einstein e do Instituto Trata Brasil.
Grave exemplo é a situação do Jardim Romano e adjacências, na zona leste, cujos moradores convivem há uma semana com água misturada com esgoto. “É grande o risco de contrair leptospirose, hepatite A, diarreia, febre tifoide. Aquilo tudo é um esgoto a céu aberto. Essas pessoas precisavam tomar vacina contra hepatite, antibiótico contra leptospirose. Mas parece que isso não está acontecendo”, alerta Timerman.
O médico ressalta que casos de leptospirose devem começar a aparecer nesta semana, pois o período de incubação da doença é de cinco a sete dias. “Casos de hepatite A começarão a surgir entre duas e quatro semanas.”
Só na cidade de São Paulo, de 1º de janeiro até 3 de dezembro, foram notificados 263 surtos de doenças transmitidas por água e alimentos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. A região sul foi a que mais teve problemas, com 49% dos registros. A região norte obteve 21%; a centro-oeste, 13%; a sudeste, 12%; e a leste, 5%.
O biólogo e professor do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) José Luiz Negrão Mucci diz que há subnotificação para casos de doenças veiculadas por fator hídrico provocadas pela falta de saneamento. “Existem poucos registros dessas doenças porque você vai com diarreia para o médico e o diagnóstico é de verminose. É difícil relacionar doenças diarreicas com água.”
Defesa
A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) alega que desenvolve várias ações com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e com prefeituras. As parcerias são feitas para implementar e regularizar a coleta e o tratamento de esgoto em regiões de fundos de vale e próximas de mananciais, e o objetivo é “preservar os recursos hídricos e melhorar de qualidade de vida da população local”.