A Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Pernambuco (Fetraf-PE) ocupou na madrugada deste domingo (13) duas fazendas de propriedade da família do deputado federal Carlos Wilson Campos (PT) no município de Santa Maria da Boa Vista, no sertão do São Francisco, em Pernambuco. "É preciso ousar para avançar com a reforma agrária já que o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e o governo federal são inoperantes", afirmou o dirigente estadual da Fetraf, João Santos. A meta do movimento é chegar a 35 ocupações até o fim do mês. Doze já ocorreram.
Também dentro da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) realizou mais 15 ocupações nesta manhã em todas as regiões do Estado – sertão, agreste, zona da mata e região metropolitana. Com as três áreas ocupadas ontem, o total chega a 18 ocupações na jornada – realizada sempre em abril, desde o massacre de Eldorado dos Carajás. Na ocasião, 19 trabalhadores sem-terra foram mortos por policiais militares.
Irrigação
As fazendas do deputado federal, de acordo com a Fetraf, são a Poço do Icó e a Planalto. Segundo João Santos, as terras do político são improdutivas e estão sendo irrigadas pelas águas de uma barragem que transbordou, situada em uma propriedade vizinha. Segundo ele, 110 trabalhadores ocuparam a Poço do Icó e outros 112 estão na fazenda Planalto, onde se preparam para plantar melão, melancia, coco, batata-doce e banana, entre outras culturas de agricultura irrigada.
Duzentos agricultores ligados à Fetraf-PE seguiram ontem, em quatro ônibus, para engrossar o Acampamento Nacional da Reforma Agrária, em Brasília, unindo-se a vários movimentos pela terra que tentarão mudar o rumo da reforma agrária do governo Lula.
"A reforma agrária no Brasil está praticamente parada", afirma nota do MST-PE, que informa as 18 áreas ocupadas em dois dias. "Em Pernambuco não houve uma única terra desapropriada ou uma família assentada (ligada ao MST) no ano passado.
O movimento também cobra o fim da impunidade nos conflitos de terra e cita relatório anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT): entre 1985 e 2004, 1.388 trabalhadores rurais foram assassinados. Desses, 77 foram a julgamento, com a condenação de apenas 15 mandantes e 65 executores.
Ocupações
Segundo o MST, 3.660 pessoas participaram das 18 ocupações. As 15 de hoje foram nas fazendas Picos (Petrolândia), Porto (Santa Maria da Boa Vista), Aracatu (Petrolina), José Gomes (Carnaubeira da Penha), Acampamento Liberdade (Cabrobó), Tiú (Serra Talhada), Bananeiras (Caruaru), Grande (Buíque), Paraguaçu (Itambé), Serra Grande (Gravatá), Engenhos Brilhante, Dois Braços de Cima e São José (Escada), engenho Xixaim (Moreno) e engenho Gurijó (Goiana). As de ontem foram nas fazendas Baixa Grande (São José do Belmonte), Várzea Nova (Timbaúba) e Ipanema (Pesqueira).