São Paulo (AE) – Apesar de medidas paliativas estarem sendo tomadas para tentar diminuir os problemas de atrasos de vôos nos aeroportos do país, principalmente a partir de Brasília, os transtornos causados pela operação-padrão dos controladores de tráfego vão se agravar esta semana, por causa do feriado prolongado de Finados, na quinta-feira. Apesar de as equipes de controle de tráfego de Brasília estarem sendo reforçadas com militares de outros estados, o problema não será resolvido em curto prazo. Domingo, houve atrasos de até quatro horas em vôos nos principais aeroportos do país.
De acordo com técnicos, é preciso redividir as áreas de acompanhamento de cada setor de tráfego aéreo, o que implicaria a duplicação do número de setores e de controladores. Se isso for feito, o problema poderá levar até quatro anos para ser resolvido.
No centro de controle de tráfego aéreo em Brasília só trabalham militares. Eles precisam de dois anos para serem formados pela escola de sargentos especialistas da Aeronáutica, passam três meses em São José dos Campos, sendo treinados em simuladores, e depois precisam de mais um ano e meio para ganhar habilitação de controlador de radar para operar no OCC – área de controle central, em Brasília.
A operação-padrão foi deflagrada após o acidente do Boeing da Gol com o Legacy da ExcelAire, pois, de imediato, oito controladores que estavam envolvidos com a operação foram afastados. Só que as baixas não se limitam aos oito.
O nível de estresse aumentou muito, de acordo com técnicos do setor, e os operadores passaram a ser mais intolerantes com a ampliação da área de controle de trabalho e com a carga horária de trabalho. Embora existam alguns padrões, os turnos variam para cada setor e de acordo com as necessidades do momento. Embora haja uma regra de que os controladores deveriam passar até duas horas na tela do radar, eles chegam a acompanhar as aeronaves, por causa do aumento do tráfego, por três horas e meia. Já chegaram a ficar até 6 horas por causa da falta de pessoal.
Como solução para tentar diminuir os problemas, os operadores decidiram ser mais rigorosos no controle de fluxo aéreo. Com isso, se as decolagens estavam sendo autorizadas a cada 3 minutos, o que exigia do controlador atenção redobrada, o intervalo foi ampliado para cada 5, 8 e 10 minutos, o que gera um atraso em dominó, em todo o tráfego do país. Na semana passada, houve atrasos de mais de 5 horas e, no sábado, os atrasos chegaram a 2 horas e meia. Domingo, em Brasília, estava praticamente normalizado, apesar de terem ocorrido atrasos que começaram em São Paulo, Rio e Minas Gerais.
Um dos problemas apontados pelos técnicos, que exigem a ampliação dos quadros, é o número de vôos que eles acompanham. No Brasil, um controlador responde por 14 aeronaves ao mesmo tempo, que podem estar a uma distância de até mil quilômetros, falando com diferentes tripulações em oito freqüências de rádio, fora os problemas de comunicação.
A Aeronáutica nega a existência da operação-padrão. Pela versão dos militares, os atrasos têm sido provocados pelo aumento do número de jatos sobre Brasília. Entretanto, técnicos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da Infraero afirmam o contrário. Segundo eles, o que tem tumultuado a vida dos passageiros em todo o país é mesmo o protesto da categoria. O diretor da Anac Leur Lomanto se reúne hoje com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) da Aeronáutica para discutir o problema.