Foto: José Cruz/Agência Brasil |
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Maria Cristina, advogada de Marcola: choro não convenceu. |
Apontados como cúmplices do Primeiro Comando da Capital (PCC), os advogados Maria Cristina de Souza Rachado e Sérgio Weslei da Cunha caíram em contradição, ontem, durante depoimentos tensos na CPI do Tráfico de Armas, na Câmara dos Deputados. Os dois são acusados de comprar de um técnico de som, a serviço da Câmara, uma gravação da sessão sigilosa em que a CPI ouviu os delegados Godofredo Bitencourt Filho e Ruy Ferraz. Poucas horas depois o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, teria sabido de uma transferência e precipitado a onda de violência que assustou o estado de São Paulo.
A primeira a falar foi Maria Cristina, que negou ter comprado e repassado a gravação, contrariando declarações do técnico de som, Arthur Vinícius Pilastre Silva, que confessou ter vendido aos advogados por R$ 200 um CD com a íntegra da sessão secreta. Logo na chegada à CPI, a advogada levou um tombo na sala de reunião e depois permaneceu sentada em uma bancada usada por deputados até ser chamada para depor. Durante o depoimento, Maria Cristina chorou, passou mal, mas não sensibilizou os deputados da comissão. Para integrantes da CPI, a advogada mentiu várias vezes.
Os dois advogados são considerados indiciados pela CPI, portanto, o falso testemunho no depoimento não pôde ser considerado motivo para declarar a prisão dos dois. Um pedido de prisão preventiva da dupla foi encaminhado à Justiça Federal em Brasília na segunda-feira. Os dois estão sendo investigados pelo Departamento de Polícia Legislativa (Depol) por corrupção ativa e, além disso, são acusados pela CPI por formação de quadrilha.
?É um depoimento cheio de mentiras que será desconstruído?, afirmou o relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Ele enumerou cinco pontos em que a advogada mentiu na comissão. ?Em primeiro lugar, ela não conseguiu explicar o que estava fazendo em Brasília?, disse Pimenta. A advogada afirmou que foi à reunião da comissão do dia 10 porque pensou que seu cliente Marcola fosse depor na comissão. Mesmo depois de saber que não havia sido marcado o depoimento dele, ela permaneceu na Casa, porque segundo ela, não tinha o que fazer.
Pimenta ressalta também que não havia motivos para que Maria Cristina buscasse a cópia do depoimento da sessão reservada, já que ela não é advogada de Leandro Lima de Carvalho, preso acusado de ligações com o PCC, que depôs no mesmo dia na CPI em sessão reservada. ?Ela nega que tenha adquirido e ficado com o CD (cópia da gravação), mas Arthur e os funcionários da loja em que foram feitas as cópias dizem o contrário?, continuou Pimenta.
Além disso, o relator afirma que a advogada mentiu ao se referir à troca de e-mail entre ela e Arthur. No depoimento, disse que sua secretária, de nome Sheila, respondeu a mensagem enviada pelo ex-funcionário, mas o relator mostrou cópia da mensagem assinada por ?Cris?.
Pimenta mostrou ainda imagens colhidas pelo sistema de TV interno da Câmara para contestar parte do depoimento da advogada na qual ela relata como se deu o encontro com o advogado Sérgio e o ex-funcionário Arthur, antes de seguirem para o shopping onde foram feitas as cópias em CD.
Assim como a advogada, Sérgio Cunha também negou fazer parte de facção criminosa. Ele disse que pensou que a cópia entregue pelo funcionário fosse autorizada pela comissão, mesmo sabendo que a sessão era reservada. Cunha, advogado de Leandro Carvalho, argumentou que tinha direito de saber o que foi falado na reunião. ?Eu tinha direito. Eu solicitei na secretaria e subentendi que tinha sido autorizado, porque o próprio técnico foi fazer a cópia comigo?, afirmou Cunha. Os dois advogados acusaram Arthur Silva de mentir.
Chefe do PCC será ouvido em São Paulo
Brasília (AE) – A CPI dos Tráfico de Armas, na Câmara, decidiu ontem que vai ouvir o depoimento do chefe da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Camacho, o Marcola, no Fórum da Barra Funda, na capital paulista.
A data do depoimento ainda não foi marcada pelo presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE). A maioria dos integrantes da comissão entendeu que um eventual comparecimento de Marcola ao Congresso para prestar depoimento seria um palco ao bandido, num depoimento que seria transmitido pela TV Câmara para todo o País, inclusive para os presídios.
A presença de Marcola nas dependências da Câmara foi vetada pelo presidente da Casa, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), na segunda-feira. ?Sou responsável pela segurança dos servidores, dos deputados, dos visitantes e das pessoas que circulam pela Câmara. Determinei que este depoimento não será colhido na dependência da Casa?, afirmou Aldo.
Combate ao crime pode ter varas especiais
Brasília (AE) – O presidente da CPI do Tráfico de Armas deputado Moroni Torgan (PFL-CE), conversou ontem com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie Northfleet, sobre a possibilidade de criar varas especializadas no combate ao crime organizado. ?A especialização do Judiciário no combate ao crime organizado é fundamental. São centenas de milhares de membros do crime organizado no nosso País. Nós não podemos subestimar?, disse Moroni Torgan.
O deputado e outros integrantes da CPI devem participar na próxima semana de uma reunião do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para tratar do assunto. Outro encontro deverá ocorrer com os presidentes de Tribunais de Justiça (TJs) do País. ?Ao término das duas reuniões, tenho certeza que teremos sugestões apropriadas para o combate ao crime organizado. Acredito que hoje o crime organizado conta com a burocracia judicial e com a pulverização de processos para se beneficiar e alongar todos os prazos de julgamento?, disse Torgan.
A presidente do STF observou que a Justiça Federal já tem varas especializadas no combate à lavagem de dinheiro e que esses órgãos poderiam servir de modelo. Segundo Torgan, o combate ao crime organizado exige uma união institucional. ?Não podemos enfrentá-lo com as instituições agindo separadamente?, disse.
